Ele me enganou logo que nos conhecemos, aconchegadamente calmo no meu colo. Dois dias depois, em casa, ele já rosnava pensando ser um cachorrão, o que sua raça nunca lhe permitiu ser. Foi o responsável por duas ou três trocas de carpete, por inúmeras reformas no sofá e por não sei mais quantos sapatos destruídos.
Tornou-se o mais chato cachorro de uma casa onde vivem mais onze ou doze e já viveram uns quinze outros. Mas ele nos esperava na janela e velava o nosso sono. Chato ou não, era da família. E família a gente aprende a amar. Incondicionalmente.
E hoje, onze anos depois, a pergunta que nos fazemos é: terminaremos sua vida amanhã ou depois? Podemos acabar com a vida de um ser destinado, pela opinião de um homem, a só sofrer?
Curiosamente, ou não, acabo de ler que Kafka, já muito doente, poucos dias antes de morrer, disse a seu médico: "mate-me, senão você será um assassino".
É isso, Zeca, que você gostaria de nos dizer?
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