quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Medo

Até a minha primeira gravidez, quando me perguntavam do que eu tinha medo, eu respondia de pronto: de sapo. Era muito simples. Esse medo me persegue desde as minhas primeiras memórias. Não é nojo como do rato, nem era um medo como do escuro. Era e é pavor. "Ah, mas o que um sapo pode fazer?", ao que eu respondia que esse medo não tinha nada de racional, de forma que essa era uma pergunta impertinente. O que eu sempre senti é que o sapo pode me matar porque ao vê-lo eu sempre tive e ainda tenho a sensação de que meu coração vai parar e o ar vai me faltar. E a gente não morre com o coração parado e os pulmões fechados?

Quando eu tive meu primeiro ataque de pânico, já adulta, dentro de um escritório de advocacia no meio do expediente, fui levada para o hospital com a cabeça para fora do carro gritando que eu não conseguia respirar. Meu corpo formigava e eu tinha a certeza de que meu coração ia parar de tanto bater naquele momento. Depois de medicada e diagnosticada, eu descobri: era isso que o sapo pode fazer comigo. Minha conclusão, que não conclui nada, é a de que o pânico sempre estava escondido dentro de mim na forma de sapo.

Depois da primeira gravidez, porém, a resposta mudou. A lista aumentou e eu me pergunto do que não tenho medo hoje. Sim, porque depois que a Luciana mãe nasceu, eu passei a ter medo da morte, de todas as doenças (de uma gripe ao câncer até ebola), de vírus e bactéria, de viajar de avião, de carro, de trem ou de navio, de andar a pé e de bicicleta, de estupro, assalto, latrocínio, furto, roubo e qualquer forma de sequestro, de agrotóxico, conservante e corante, do capitalismo, do socialismo e muito mais do totalitarismo, do desemprego, da falta de dinheiro, do fim do mundo, dos meteoros, dos raios de sol, do buraco na camada de ozônio, do desmatamento e da falta de água, do preconceito, da ambição, do vestibular, das nossas escolas, das babás, dos hospitais, do mal, da cidade grande, da chuva ácida e agora até do Toddynho, meu Deus!

Ah, mas e o medo do sapo? Sumiu debaixo de tantos outros? Hummm...não. Ainda está aqui, no centro dessa massa pavorosa. E embaixo dele, escondidinho, shhhhhhhh, vou falar baixinho para ele não acordar: embaixo do sapo, quase invisível, está o medo da Matemática.

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