sábado, 31 de dezembro de 2011

Feliz VOCÊ, seja lá qual for o ano

Nasci em sessenta e três.
Quarenta e oito anos se passaram desde então e algumas coisas aconteceram. Já tenho algumas histórias para contar.
Enterrei pessoas queridas e amadas e fui a pessoa que discursou nestes funerais. Homenagear aqueles que amamos com a voz embargada é tarefa das que menos gosto. Aprendi que é melhor fazer isso aos poucos, mas todos os dias. Nem sempre consigo praticar...
Vi nascerem crianças amadas e contribuí com a vinda de duas delas. Ganhei outras duas de presente e por escolha, trabalho/aprendo com outras tantas que foram rejeitadas.
Fui sequestrada duas vezes, uma delas com minha filha no carro e com uma arma apontada para sua cabeça de apenas cinco anos. Esta mesma filha, por descuido do pediatra, caiu da mesa de exames e entrou em choque. A culpa ficou comigo.
Entrei em depressão, fui parar no hospital e a única coisa que tiveram certeza é que não sabiam o que eu tinha. Cogitaram tentativa de suicídio. Eu? Me poupe... Sou covarde demais para isso.
Ao nascer o primeiro grande amor incondicional da minha vida, Lucas, quase morri com a quase morte dele.
Emagreci, engordei e tornei a emagrecer. Engordei de novo. Crescer, só um metro e cinquenta e seis centímetros.
Namorei, transei com amor e sem, beijei, abracei, casei, descasei e casei de novo. Fui feliz e triste. Chorei e gargalhei. Fiquei impassível também. Desejei muita gente que nem me olhava. Fui incapaz de perceber os que me queriam.
Rejeitei muita gente que depois aprendi a respeitar. Meu padrasto é um exemplo vivo disto. Bem paciente ele...
Já ganhei muito dinheiro e gastei tudo. Fiz faculdade, curso de tarô, de escrita criativa, eneagrama, programação neurolinguistica, coaching, desenho, pintura em cerâmica e também fiz nada muitas vezes e por muito tempo.
Privilégio de poucos, eu sei, pisei em todos os continentes deste mundo, morei na Alemanha e voltei para São Paulo. Viajei só e não gostei e também já viajei acompanhada e não gostei. Amores foram desfeitos neste trajeto e algumas amizades também.
Falei muito palavrão, xinguei no transito, sofri acidentes.
Passei por revista em cadeia para visitar alguém que eu muito amava, descrente que estivesse envolvido em assassinato. Estava envolvido, foi preso, julgado e condenado. Chorei.
Tive compaixão por assassina de Yorkshire e ódio mortal de motoqueiros que levaram meu espelho lateral. Fui incoerente, confusa e me senti pequena.
Disse coisas que magoaram alguma pessoas. Todas muito generosas, me perdoaram. Eu também perdoei.
Fui à igreja, mesquita, sinagoga, centro de umbanda, candomblé e espírita. Pedi, desavergonhadamente, para qualquer santo, orixá ou rabino que concretizasse os meus desejos. Arregacei as mangas também.
Tenho medo.
Assim como o sol nestes quarenta e oito anos, o medo é presença constante. Amigos íntimos. Crescemos juntos e eu aprendo muito com ele.

Estou esquecendo de muitas coisas e outras estou omitindo mesmo.
Vou passar a meia noite deste trinta e um de dezembro de dois mil e onze numa super festa e minha mãe passará no hospital se recuperando de uma cirurgia cardíaca. A vida é assim mesmo, extremos inclusive na virada do ano.

Tem fatos que eu gostaria que tivessem sido diferentes outros que não tivessem existido e de muitos tenho saudades e jamais serão revividos. Apenas lembrados.

Gosto do fato de poder estar celebrando mais uma virada, sem saber o que me aguarda, quem vou conhecer, quais fatos novos exigirão de mim o melhor que tenho para oferecer e diante dos quais irei me acovardar. Sei que estarei aqui para o que der e vier. Assim como você.

Feliz você!

Adeus ano novo

Quando eu era criança, achava que o ano novo e o ano velho se alternavam na chegada às nossas vidas. Um ano a gente deveria cantar "adeus ano velho, feliz ano novo" e no outro "adeus ano novo, feliz ano velho". Até que num ano perdi a contagem e perguntei para a minha mãe quem chegaria: o ano novo ou o ano velho? E ela respondeu que era sempre o novo que chegava, essa alternância não existia. Como eu podia ser tão burra?, pensei. E nunca mais me atrapalhei com a música, era bem mais simples do que eu pensava.

Hoje, tantos anos depois, acordei com saudades daquela menina que de burra não tinha nada. Acordei com saudades da menina que acreditava que o velho pode substituir o novo. Que ela renasça em mim em 2012.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Carta para 2011

Dois mil e onze,

você não me fez mal algum, afinal é apenas uma invenção romana incapaz de cometer qualquer maldade ou bondade contra quem quer que seja, mas, mesmo assim, não consigo começar essa carta com um “querido” antes do seu nome.

Depois de amanhã você será apenas história e para mim não será das mais bonitas. Derramei mais lágrimas durante a sua existência do que em toda a minha. Acordar durante os seus dias foi uma batalha. Diária. Direi “adeus” a você cansada, quase dilacerada, mas ainda não será dessa vez que desistirei. Para sorte de uns e azar de outros, eu tentarei mais uma vez. Talvez duas. E a partir de hoje, de já, e se não der, do já que virá depois e sempre, até a minha existência virar apenas história também. Bonita para alguns e feia para outros.

E chega por ora. Estou sem energia.

As risadas foram ínfimas perto das lágrimas, mas existiram e eu aproveitei cada uma delas. Convivi com pessoas que me mostraram que vale a pena estar aqui. Li textos lindos. Escrevi muito para conviver com a dor e escrever sempre me faz bem. Conheci pessoas merecedoras de coisas boas. Senti saudade, sinal de que tenho belos segredos no meu coração. Fui a lugares que não conhecia. E eu sempre gosto de conhecer, seja um lugar, um sabor, uma pessoa, um sentimento, uma obra de arte, um som. E ouvi a risada dos meus filhos, o som mais bonito desse mundo perdido na Via Láctea.

Espero que 2012 me encontre serena e que ele ouça mais a minha alegria do que você.

Luciana Gerbovic Amiky

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

E se?

Hoje, só hoje, a gente dançasse e se amasse no meio da sala, como daquela vez sobre as pedras? Eu dançaria descalça. Você foi o único que gostou dos meus pés.

Aqui sentada eu vejo tantas pessoas lá fora. Contei setenta em um minuto. Se eu ficasse aqui um dia inteiro veria cem mil e oitocentas. Num ano trinta e seis milhões setecentas e noventa e duas mil e eu não te vejo desde que nos despedimos numa rodoviária há dez anos. Eu ficando e você indo. Você e a pessoa que eu gostava de ser que só existe em você. Perdi duas vezes. Três. Você também levou o filho que não tivemos. Só me lembro de ficar ali reduzida, vendo você, eu e nosso filho partirem dentro daquele ônibus. Não sei aonde chegaram, nem quando. E se chegaram.

Só você viu em mim a alma e a cor de uma leoa caminhando sob o sol. Só você sentiu medo do meu sofrimento no futuro. Só você me protegeu da chuva debaixo de uma rocha. Só você riu quando eu explodi um pudim no meio da cozinha e caí num choro como se fosse boba. Eu até hoje não sei lidar com desmoronamentos. Fico tentando segurar destroços tão maiores do que minhas mãos. Não consigo viver bem com a hipótese de que muitas histórias não chegam a um fim. Feliz ou triste, elas simplesmente não têm um fim. E é assim e eu preciso aprender a aceitar.

Eu sei que hoje você usa terno. Ao lado de outra. Só ela te vê. Mas só dos meus pés você gostou.

E se hoje você fosse uma das pessoas que passam e ficasse? Só para uma dança no meio da sala ou da rua, você escolhe. Eu dançaria descalça, bêbada de silêncio. No fim da dança você olharia meus pés, sorriria, vestiria seu terno para ela e partiria. Talvez levando apenas você.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Essa é uma obra de ficção etc etc etc

O almoço

Água oxigenada em casa? Não, não tenho. Pode deixar essa mancha de sangue na toalha. São apenas os meus óvulos não fecundados por falta de amor. Ainda insistem nessa cor viva. Eu deveria soltar cinzas pelo meio das pernas. Já viu coerência em pote para vender? Talvez ao lado da água oxigenada? Não? Deixe pra lá, logo chega a hora do almoço e ele ainda dorme. Tenho esses olhos inchados porque sou alérgica a lágrimas. Justo eu que vivo afogada. No banho eu sempre torço para que as gotículas de água quente não se desprendam do alumínio do boxe, mas elas não conseguem se segurar e eu choro ainda mais. Já viu que elas se desfazem e não arrebentam? Se um dia eu pedir socorro no banho, não me obedeça, será um grito saído só da garganta. O que me revela está no meu útero, aonde ninguém chega e de onde ninguém sai. O que temos para o almoço hoje, além do meu suicídio? Não, nada de acompanhamentos. Talvez um café amargo antes e Chopin durante. Gosto tanto de suas músicas, mesmo sem saber nomeá-las. Coloque qualquer uma. Você já aprendeu a mexer nesse aparelho de som, não? Se ele não acordar, não o chame. E me deixe na sala, no meio do caminho, talvez assim ele perceba. Tire os meus sapatos, o tapete está tão limpo. O que você usou dessa vez? Pode ficar com eles e com todos os outros. Com as minhas roupas também. Ele seria capaz de embrulhá-las para presente. Será que eu e ela usamos o mesmo tamanho? Não importa, eu também não gostaria de saber a resposta. Não, não se preocupe com a água oxigenada, eu não deixarei manchas de sangue dessa vez. Pensando melhor: cozinhe batatas.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Um conto de bacalhau

Depois dos quarenta, quem nunca usou óculos começa a sentir a necessidade de usá-los. Tudo o que está mais perto fica embaçado, como por exemplo o rosto dos seus filhos quando vai beijá-los ou as letras dos jornais e revistas que ficam bem menores. Sacanagem.
Portanto, quando este momento chegar, sempre - eu digo SEMPRE, vá ao supermercado com seus óculos.

Amigo secreto sorteado via internet - uma diversão! A sua sobrinha internética faz perguntas, responde e ri sozinha no grupo. Uma farra!

A lista de quem leva o que também já está pronta - a madrinha se encarrega das frutas, a Nonna leva o tender com purê de maçã, os amigos vão trazer o frango com as maravilhosas batatas, sua irmã e o filho chef de cozinha, as sobremesas. E você, o bacalhau. Ninguém pediu, você se ofereceu.

Chegou o Natal. Lista de supermercado em punho, as crianças te acompanham para a saga de fazer compras no dia 23 - uma cuida dos itens para o café da manhã (os primos sempre dormem em casa), outra vai cuidar dos petiscos e aperitivos. E você, como não poderia deixar de ser, vai cuidar dos itens para o bacalhau. E sem óculos.

Fase 1. Por mais de 24 horas o bacalhau fica de molho prá dessalgar. Várias trocas de água e a derradeira no leite. Isto eu já sabia. A novidade surgiu quando começou a luta para separar a pele. O que era isso? Puxa de um lado, passa faca afiadíssima de outro - e nada. Cavoca ali, levanta acolá e a pele resistindo. Você liga prá sua mãe, torcendo para que haja um método mais simples. Tem sim, comprar pronto ou congelado, sem pele e sem espinhas.  Piadinha mais fora de hora...

Terminada a fase 2, pele arrancada, na fase 3 descubro que, na vida de um chefe de cozinha a parte mais importante é o auxiliar de cozinha. Ele picada, descasca, lava, separa, coloca nas medidas certas - e provavelmente, também teria tirado a pele. Mas você não tem um auxiliar de cozinha.  Cebola, alho, tomates e ovos estão todos à sua espera. A azeitona portuguesa também. Como você foi sem óculos para o supermercado ela está... com CAROÇO! Qual a razão de escreverem com letras tão miúdas nas embalagens?
Cebola refogando no azeite  e o bacalhau acompanhando o cozimento, é hora de se dedicar às azeitonas... uma a uma... Incrível como podem ser tão diferentes uma das outras.  Algumas só de olhar, o caroço sai. Outras, você dá tres pulinhos e pede prá São Longuinho  te ajudar a encontrar uma maneira mais fácil de tirar esse caroço.  Suspira e pensa... ainda bem que vão mastigar mesmo, assim não percebem a diferença entre azeitona sem caroço e azeitona esmigalhada. Muitas ficaram esmigalhadas. E não tenho muita certeza se alguma azeitona foi para o lixo e o caroço para a panela...

Agora é só esperar. O tempo e o fogo baixo farão todo o resto. Satisfeita, sorrio - logo todos chegarão e o momento de partilhar um dos momentos mais amorosos do ano se aproxima. 

Torcer para o bacalhau não estar muito salgado...

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Eita 21 de dezembro

Acordei e já pensei, antes mesmo de colocar os pés no chão: 13 anos sem a companhia da minha amada amigairmã Vanessa. No dia 21 de dezembro de 1998 acordei com um telefonema do pai dela, que me disse assim: não, Lu, não está tudo bem, a Vã morreu. Coloquei o filme da nossa amizade para rodar, eu sozinha no meu cineminha particular, coração voando para a minha adolescência, quando toca o telefone: meu pai, tão cedo assim? É, ele e minha mãe não dormiram muito bem, ou nada bem, ele me disse. Seis rapazes armados invadiram a casa onde eles moram há mais de 30 anos, onde eu e meus irmãos crescemos na paz. Meu coração voltou, o filme acabou e eu fiquei assim, assim...triste? É, triste também.

domingo, 18 de dezembro de 2011

A dona do cachorrinho e os donos da verdade

Passei o final de semana pensando na mulher que espancou o cachorrinho de estimação até a morte na frente da filha. Não, eu não vi o vídeo, mas pelo relato das pessoas, parece que foi isso o que aconteceu. Não quis ver a filmagem para preservar meu coração e meu estômago que não andam lá muito fortes. É claro que só de imaginar já sofri e talvez se eu assistisse à gravação os fantasmas sumiriam da minha mente. Mas resolvi ficar com eles.

De qualquer forma, não foi exatamente sobre o fato que eu fiquei pensando, e sim sobre a reação que ele provocou nas pessoas em redes sociais.

Primeiro, que fique claro: respeito qualquer animal, especialmente cachorros. Já devo ter tirado uns vinte das ruas, dos quais uns dez ficaram na casa dos meus pais. Os outros foram para donos que eu escolhi após visitas e entrevistas. Portanto, não admito qualquer violência contra eles. Uma vez, é sério, briguei com um cara no meio da rua porque ele estava chutando um rato. É, um rato enorme e gordo.

Segundo, eu sou mãe e meu coração quebra quando eu penso nessa mulher batendo no cachorro na frente da sua criança. Não consigo dimensionar o estrago.

Terceiro, penso na pessoa que ficou filmando tudo isso. Na era das redes sociais onde o que mais vemos são frases de outros copiadas e coladas à exaustão, penso naquela do Martin Luther King: “o que me preocupa é o silêncio dos bons.”

Mas, eu pensei em outra coisa. Uma coisa que foi a que mais me chocou e que me tirou o sossego até agora: a reação das pessoas no Facebook, única rede social que frequento.

Na verdade, quando li a notícia, a primeira coisa que pensei foi: coitada dessa mulher descontrolada! Eu não sei se alguém que me lê já chegou no fundo do poço. Eu acho que já cheguei. Minha terapeuta afirma que eu já cheguei. E quem já esteve no fundo do poço sabe do que um ser humano é capaz. Não, nunca espanquei cachorrinhos nem baratas nem crianças nem nada. Mas talvez não o tenha feito porque busquei ajuda e encontrei.

Mas também pode ser que a mulher não esteja doente e seja, sim, má. Claro, porque a maldade existe. E a sociedade tenta cuidar de uma coisa e punir outra. Ou pune as duas e não cuida de ninguém.

E seja lá o que for, o que eu sei é que eu não sei o que é. Não a conheço, nunca vivi com ela nem na casa daquela família. E milhares de pessoas que também não a conhecem e lá nunca viveram saíram pelas redes sociais pedindo sua morte, mostrando fotos de rottweilers e pit bulls, sugerindo que ela agredisse cães dessas raças.

Não estou defendendo essa mulher, mesmo porque não tenho procuração para isso. Mas também resolvi não atacá-la. Confesso que senti mais medo das pessoas reativas em rede do que saber que essa desequilibrada ou essa maldosa cuida de uma criança. A imagem que me veio à cabeça foi das cidades se iluminando pelo mundo, aquelas apresentações que a gente recebe pela Internet, mas ao contrário: uma sombra contaminando as pessoas e o mundo se apagando. As pessoas em rede podem tanto uma coisa quanto outra. Nesse caso, acho que escolheram a sombra.

O mesmo aconteceu há alguns meses no caso dos estudantes que tomaram a reitoria da USP. Não estudo lá. Conheço quem estude e trabalhe na universidade e mesmo essas pessoas não souberam me explicar bem o que estava acontecendo. Eu não acreditava que centenas de estudantes tomariam a reitoria porque uns quatro ou seis ou oito foram levados pela polícia por estarem fumando maconha. Devia ter alguma coisa a mais e alguns amigos me indicaram uns artigos que explicavam a situação com um pouco mais de detalhes. Novamente, não defendo esses estudantes, mas também não concordo com a “borrachada neles” que mais uma vez os facebookianos colavam nos seus murais. Dos que defendiam a “borrachada” ou a “porrada” nos “vagabundos”, nenhum soube me explicar com clareza e imparcialidade o que estava acontecendo.

Eu fico com muito medo. Sem exagero. E se essas pessoas estivessem unidas fisicamente ao invés de virtualmente? Veríamos o que vemos com as grandes torcidas em jogos de futebol. Ou um linchamento. Só porque é virtual pode? Será que as pessoas estão se dando conta de que entraram numa massa? Se sim e escolheram esse caminho, aceito. O problema é que a maioria deve acreditar que está agindo na individualidade em prol da bondade. Todos nos tornamos juízes e aplicamos penas de morte sem julgamento sério e digno.

Precisamos nos expor com mais calma e cautela. E sobretudo com conhecimento. Muita maldade também já foi feita em nome do bem.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O fim

Muitas festas. Algumas com pessoas que a gente vê sempre e outras com pessoas que precisariam de um crachá com nome e procedência, o que não significa que seja ruim para uma pessoa nostálgica como eu.

Pessoas de longe que sei que estão perto, mas não consigo encontrar. Pessoas que amo. Para sempre, eu sei que para sempre.

Prazos. Artigos que escrevi e gostei. Artigos que escrevi e detestei. Trabalhos que preciso, mas não quero pegar. Trabalhos que quero pegar e não consigo.

Dois dias no interior. A cidade em que cresci mudou, mas ainda escuto as risadas que dei por lá e sinto o cheiro da alegria e da paixão. Dois dias presa nas minhas lembranças. Felizes. Como eu já fui feliz nessa vida.

O trânsito na capital. O mau-humor das pessoas que eu tento passar longe, bem longe.

Vídeos na Internet sobre mulheres que matam cachorros e assaltantes que arrancam orelhas de suas vítimas. Ei, eu não quero saber do mal. Mande-me palavras lindas juntas numa frase. Uma foto bonita com alguém sorrindo. E se estiver chorando, que seja de muita felicidade.

O fim do ano. Às vezes parece o fim do mundo. Até lá, que a vida possa ser tão intensa quanto foi essa semana que também está no fim.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Obs

Quando a primeira palavra que sai da boca do seu filho é ALEGRIA, seu coração de mãe explode em milhares de estrelas.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Loucura

Os prazos estão terminando, a meta próxima de ser alcançada e a pressão é assustadora. Restam dez dias úteis. Tempo é dinheiro. Dinheiro é dezembro.
Em dezembro, procura-se resolver a vida não vivida nos últimos onze meses. Caca Rosset tuitou que é neste mes que sabemos que o ano não vai dar certo...
Ela se encosta no parapeito da janela e solta os filhos para que voem pelos quatro andares que os separam do chão. O major, durante um sequestro relâmpago, perde a vida cumprindo sua função pois se esqueceu do colete a prova de balas. Alguns boletins que chegam trazem em si o espirito vermelho do Natal. Déficit nas notas e nas contas correntes. Bondade sendo praticada com sacolas de todos os tipos e tamanhos, deixando a reciclagem de lado. Pobres sacolas plásticas, foram as culpadas pela poluição do meio ambiente e hoje observam suas primas de papel rodando livremente pela cidade. Desafetos em "festinhas de firma" trocam anonimamente presentes que em sorteios os fizeram amigos. O compromisso das dez e trinta começa na realidade às oito para que seja cumprido no horário - pode começar antes, se o trajeto prevê algum shopping center no meio do caminho. Esta é a pedra de todos nesta época do ano. O casamento que se arrasta tem seu decreto definitivo, mas não final. É pau, é pedra, é o fim deste caminho. A ser efetivado em janeiro, para não traumatizar o Natal das crianças.

A partir das quatro horas da tarde, no decimo sexto andar de um prédio no Itaim, um espetáculo de verão tem início.
Vinte, trinta ou quarenta andorinhas bailam pelo céu, todos os dias até o final do verão.
Cantam, alegres, rodopiam em um bailado encantador.
É Natal.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Exercicio Marcelino

Queridos, o texto exercicio da oficina do Marcelino, optei por postar no meu blog - se quiserem fazer uma visita, sigam o link!
http://letrajuntojuntatudo.blogspot.com/2011/12/desfecho-unico.html

Pacto por água abaixo todos os dias

Quase todos os dias eu combino comigo mesma que não vou mais me assustar com o ser humano que já provou ser capaz das mais belas bondades e das mais terríveis crueldades. Acho que eu tento eliminar a emoção que faz com que eu viva quase vinte e quatro horas numa montanha-russa. É lugar-comum, eu sei, mas é perfeito: tem o trecho plano em que você consegue até apreciar a paisagem, uma subida que parece eterna e não te deixa ver nada do que acontecerá lá na frente, uma descida desenfreada, uma ou duas voltas em que viramos de cabeça pra baixo, umas voltinhas mais lentas para recuperarmos o fôlego e um fim que pode ser acompanhado de risadas ou de vômitos.

Todo dia eu falho.

Hoje foi com a notícia de que a polícia chinesa encontrou 180 crianças sequestradas para tráfico.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Alguém falou em culpa?

A babá já deixou claro que ela não ganha para acordar à noite e como você não encontra outra para substituí-la, aguenta. Mas essa noite você está sozinha: você e as crianças. E antes de se recolher, pontualmente às nove da noite, a babá avisa que amanhã de manhã irá ao médico. Ah, claro, último dia de aula do seu mestrado e no escritório um monte de coisas te esperando, mas tudo bem, você corre o risco de ser tão grossa e estúpida com a babá – você sabe do que é capaz nesses momentos, que engole seco e pensa que amanhã você vê como se vira.

Aí você tenta fazer uma criança dormir das nove às onze da noite. Duas horas com ela virando de um lado pro outro e te chamando e resmungando e pedindo peta e tetê e mãe vem aqui e você com calma pedindo para ela dormir até que chega ao limite e a manda fechar esses olhos e calar a boca. Ufa. Deita às onze mas meia-noite a outra chora porque quer porque quer a mamadeira e você dá. Coloca-a de volta no berço uma da manhã e a outra começa a choramingar. Você larga as duas no quarto e tenta dormir, mas aqueles resmungos não deixam. Solta um shhhhhhiiiiiiiiiiiiiiii bem alto e todos calam. Até às três. Acessa o Facebook conta até mil reza mesmo sem saber pede ajuda aos anjos mas às cinco entra no quarto e dá um berro. Um belíssimo calem a boca. Volta para a cama e pensa se vai tomar raticida ou enfiar a cabeça no forno de tanto remorso. Tem vontade de trazer as duas crianças para a sua cama e chorar um Amazonas de arrependimento. Às seis as duas pulam na sua cama e você resolve rir. Até ver uma delas com os olhos inchados e vermelhos e ramelentos. O pediatra pode te atender às oito e meia. Dá tempo? Claro, são sete e meia, você está sozinha, mora longe do consultório, em São Paulo – mero detalhe, precisa se trocar, escovar os dentes - não pode esquecer de escovar os dentes, é mais importante do que pentear os cabelos, depois trocar as crianças, escovar os dentes delas – pelo menos só da que será examinada, para o pediatra não achar que você é tão relapsa. Você vai conseguir.

E chega no carro carregando as duas chorando – uma porque quer fechar a porta e chamar o elevador e abrir o elevador e apertar o botão da garagem e ir no colo e a outra...porque viu a mais velha chorando. E lembra que está só com uma cadeirinha no carro, a outra ficou no outro carro que está em outra garagem e que se dane é preciso ir, uma na cadeirinha e a outra presa ao cinto berrando porque quer a cadeirinha e você, mais uma vez, mais uma vez, berra. Berra não tem outra cadeirinha para o prédio inteiro ouvir.

E vai sofrendo, sorrindo e chorando, mas vai. Consegue chegar. O pediatra detecta uma otite na criança mais velha que pode estar até prejudicando a audição. Pelo menos não deve ter escutado meus berros, você diz. O médico ri. Você segura as lágrimas.

Agora só falta você encontrar a amiga que te lembra do quanto a bebê dela é calma porque ela a leva na yoga e na natação e na meditação e na massagem.

Não, por favor, hoje não.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Manual

Compro celular novo. Leio o manual. Televisão? Idem. Relogio de parede? Também. Eu gosto de ler manuais. Pode até ser o da sua maquina de lavar roupa.
Produto de um lado, manual do outro, mexe aqui, vira acolá e... voilá! Como diria minha amiga R.D., fico toda pimpona depois que a traquitana está funcionando.
Nos remotos tempos de teste vocacional, do tipo "feito nas coxas", recebi um resultado sugerindo que eu trabalhasse com Organização e Métodos. Nem existe mais isso, trocaram de nome e, até eu enquanto escrevo isto, dou risada com a imagem de que eu pudesse organizar e dar método a alguma coisa... Pois sim! Para isso existem os manuais - que os outros escrevem e com os quais, me delicio.
Além da quantidade infinita de manuais, existem os livros que ensinam qualquer um a fazer qualquer coisa. Estes são bestsellers - podem conferir nas prateleiras da casa de minha mãe. Precisa trocar pia? Tem um livro prá isso. Consertar torneira. Tem, sim senhor. Chuveiro, porta, para organizar armários, prateleiras, gavetas, tirar manchas, etc, etc, etc Todos os assuntos nas prateleiras das Saraivas e Culturas da vida.
Há muito tempo, exatamente dezenove anos, tenho procurado um manual único - ninguém tem, todos procuram e alguns poucos são experts autodidatas na matéria.
Se voce que está lendo, souber de um exemplar, por favor, me empresta.
É o manual "Como ser uma boa mãe e abandonar o sentimento de culpa".
Eu juuuuuuuuuuro que leio rapidinho e devolvo. Prometo.

domingo, 4 de dezembro de 2011

O dia do Doutor

Eu sou uma corinthiana nada ortodoxa. Não sei a escalação e mal assisto aos jogos, mas eu sou corinthiana, filha de um corinthiano fundamentalista que nunca perdeu o bom humor por causa de um jogo perdido ou mal jogado. Para o meu pai, "basta ser corinthiano". Ou, nas palavras de Toquinho, "ser corinthiano é ir além de ser ou não ser o primeiro". E eu, sou corinthiana, lá do meu jeito, mas sou. Já fui algumas vezes no estádio - experiência das mais emocionantes, já gritei em vários jogos pela TV e já desfilei orgulhosa pela Gaviões. Não trocaria o Corinthians por nenhum outro time. É diferente. A paixão do corinthiano pelo seu time não é como a dos torcedores dos outros times. É visceral e incondicional. É bonita. É a mais bonita.

Hoje às seis da manhã, entre o consciente e o inconsciente, ouvi meu marido falar "o Sócrates morreu, seu pai vai ficar triste". Às nove eu levantei com aquela sensação de que tive um sonho sobre a morte do Sócrates, mas a notícia estava lá na tela do computador. Meu pai deve ter ficado triste, mas eu também. Eu me lembro dele jogando. Sei lá por qual razão eu gravei umas imagens dele no campo. Era uma época bacana. Aqueles magrelos jogando por pouco dinheiro. Era bonito. Era mais bonito.

Justo hoje. Justo hoje que o Corinthians disputa o título do campeonato brasileiro 2011. O título que quase saiu domingo passado, mas que agora eu entendi. Tinha que ficar ainda mais emocionante. E de emoção o corinthiano entende.

Vai ser uma festa, do jeito que o Magrão merece. Eu vou me juntar à torcida hoje. Hoje eu vou.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Enquanto isso...

... na fila do caixa:
- Aí eu falei prá ele, tipo assim, meu, não vai falar nada!?
- E ele?
- Ah, com uma voz besta, falou.. desculpa...
- E você?
- Ah, eu falei "o que?"
- E ele?
- Ah, falou "já disse, to pedindo desculpa aí ô"...
- E você?
- Pô, quem pede desculpa desse jeito, meu? Cara ridículo... Aí eu falei...

...

... no elevador:
- Garanto, estamos alinhados. Dei uma dura no cara, enquadrei mermo.
- Tava na hora, prá ser sincero contigo cara, já tinha passado da hora...
- Eu sei, broder, eu sei... mas é complicado
- Cara, pode ser complicado, mas com a grana que tá rolando tem que descomplicar...
- É, eu sei... eu sei... tem que enquadrar... tem que enquadrar...

...

... na livraria:
- Nossa que bacana! O encontro deve ter sido demais!!
- ...
- Isso é super estimulante...
- ...
- AAHHHHHH NÃO A-CRE-DI-TOOOOOOO!!! Amore, tenho que desligar... eu pre-ci-so beijar e abraçar quem eu encontrei aqui!! Nooooooossa que saudade!!! Re, vou desligar, vou desligar... CARAAAAAAACA, eu tava pensando em você!

No meu café preferido

Eles estavam todos contentes com gorrinhos de Papai Noel e a cada um que entrava eles gritavam pra cozinha: suco de laranja gelado! macchiato médio! pão na chapa!

Resolvi sentar. Cappuccino médio e pão na chapa. Livro do Antonio Tabucchi no colo.

Alguém senta ao meu lado. Só vejo as mãos: levemente trêmulas, com a pele solta repleta de manchas cor de café com leite. Penso nos meus avós, um iugoslavo e outro filho de italianos. As lágrimas param na minha garganta. Sinto que vou me afogar.

A dona do café aparece e o meu vizinho se empluma todo e canta um perfeito Buon giorno, Signora!

As lágrimas se postam nos olhos, todas prontas para saltar. È la lingua più bella del mondo.

Elevador

Eu parei no térreo para deixar uma tupperware com chocottone para os seguranças do prédio. Quando voltei o elevador subiu, em vez de descer para garagem. Fiquei brava, um pouco irritada. Fiquei apertando inutilmente o botão do 2S até que o elevador parou no 9o andar. A mulher que entrou estava chorando. Limpou as lágrimas com discrição, talvez amaldiçoando minha presença dentro do elevador da mesma maneira como amaldiçoei a viagem até lá em cima. Era uma mulher bonita, talvez uns 40 anos. Lábios grossos, olhos amendoados. O cabelo preto e brilhante preso em um rabo de cavalo alto perfeito. Estava bem vestida, com uma calça jeans escura, escarpin preto e um lindo sueter argyle rosa. Ela apertou o 6o andar, e continuava passando os dedos sob os olhos, disfarçando as lágrimas. Imaginei que alguém devesse ter partido o coração da mulher. Imaginei que esse alguém morasse também no nosso prédio. E lembrei que a última coisa que queremos é uma testemunha de nossas lágrimas quando nosso coração despedaça. Pensei que no meio do silêncio daquele elevador iam duas mulheres de coração castigado, e quando o espaço é tão pequeno, parece que o mundo todo se resume apenas a isso. Pensei em como era injusto aquilo. Resolvi que não ia lavar minhas mãos. As lágrimas continuavam teimosas, são muito impertinentes quando querem. Eu não queria ser a garota que a viu chorar no elevador. Então eu falei. Abri minha boca e falei. "Lindo o seu suéter!". A mulher se espantou por um segundo, depois abaixou o rosto até o peito, meio que lembrando qual era mesmo o suéter que estava usando e... sorriu. "Ele é diferente, né!?". Acenei que sim. Era diferente. A mulher sorriu e soltou de leve, quase imperceptivelmente a respiração. Talvez por um segundo ela tenha se esquecido do coração partido. Talvez por um segundo ela tenha se lembrado de todas as coisas que ela era além daquilo. Talvez por um segundo ela tenha se lembrado do dia em que comprou o suéter, da lojista lhe apresentando opções, do momento da escolha. Talvez por um segundo ela tenha pensado como tinha feito a escolha certa ao se vestir pela manhã. E se lembrado de que ela era uma mulher bonita, interessante, sofisticada. Ou talvez nada disso tenha se passado para ela. Mas quando a mulher desceu no 6o andar, o sorriso continuava lá.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sabe...

ele canta o Samba da Benção como se fosse o Vinícius e eu fico triste vendo que ele é quem não gostaria de ser.

Oi?

Chegou dezembro? Mês de festas, comilância, compras e decisões sobre quem vai pra onde? O que aconteceu com os outros onze meses do ano? Onde eu estava, fazendo o quê? Janeiro e fevereiro...ah, no meio de uma depressão pós-parto, deixa pra lá. Março consegui voltar pro trabalho. Abril e maio? Só lembro que no fim de maio fiz aniversário. Junho? Aniversário do meu filho. Julho? Definitivamente fugiu do meu calendário 2011. Agosto comecei um mestrado, mas quando fiz as provas? Setembro, outubro e novembro? Trabalho-estudo-crianças-crianças-estudo-trabalho. Tá, novembro acabou agora com a festa do meu outro filho. Disso eu lembro. E tudo aquilo que eu havia planejado para 2011?

Será que é mesmo culpa do tsunami?

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

30 de Novembro de 2011.

Uma das maiores descobertas que tive na vida foi de que a gente só conquista liberdade quando estabelecemos limites. É. Meio antagônico. Mas juro que funciona. Fiquei pensando hoje de manhã nisso, enquanto eu tomava café e assistia o Renato Machado conversar comigo de Londres. Eu tenho um paladar bem próprio. Embora eu seja uma avestruz na arte de explorar sabores, tenho minhas predileções confortáveis que posso comer todos os dias. Sou bem conservadora, no fundo. Café da manhã para mim sempre foi: café com leite, pão com manteiga, mamão papaia e suco de laranja. Algumas variações como: requeijão ou geléia, aveia e mel na papaia, ou trocar o pãozinho fracês (nham, nham) pelo integral podem ocorrer. Mas no geral, esse é o café da manhã perfeito para mim. Então um dia o médico diz "sem lactose, sem glúten, sem corantes, sem morangos". (Morangos???) E o que sobra são todos os sabores que eu perdi enquanto estava ocupada demais com os mesmos sabores. Redescobri o arroz. E umas 532 diferentes formas de comê-lo. O mesmo com o milho. Ganhei o leite de soja. Eu torcia o nariz, não achava que combinava. Mas não é que fica melhor no cappuccino do que o leite de vaca!? Grão de bico, soja, quinua. E sinto sabor de infância todos os dias fazendo muito mais sucos naturais do que consumindo os de caixinha. Mas a maior de todas as conquistas: a tapioca! Livre de glúten, sempre me dá a sensação de café da manhã da pousadinha de Canoa Quebrada no meio de Pinheiros. Ando saltitando pelas pradarias dos cafés da manhã nunca dantes explorados. Isso é tanta liberdade, que até me esqueço dos limites que me colocaram.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Talita

Eu sempre penso na Talita.

Conheci a Talita quando passei alguns meses numa escola estadual da capital de São Paulo gravando com a TV Cultura para o MEC. Ela era uma das alunas-personagens.

Baixinha e gorduchinha, a moreninha baiana nos disse uma vez que não sabia falar a língua dos baianos. Como é que é, Talita? Aquela língua assim: ó xente bixim.

Da Bahia ela só lembrava do mar e de que o mar era de todos. Sabia, tia, que o mar não tem dono, que entra nele quem quer?

Ela estava ansiosa para a festa de encerramento. O ministro da Educação vem mesmo, tia?

No dia da festa ela não apareceu. Cadê a Talita? Cadê a Talita?

Implorei para que a diretora me passasse seu endereço e encontrei a Talita numa vilinha bem pobre andando de bicicleta.

"Eu não queria falar 'tchau'", foi o que ela me respondeu.

As cenas mais lindas que já vi

1. Meu marido me esperando no altar
2. Minha bernese puxando meu bernese desesperado da piscina
3. Meus filhos chegando no mundo
4. Um vira-lata sentado na esquina esperando seu companheiro-mendigo caminhar uns três quarteirões
5. Meus filhos entrando juntos no meu quarto hoje de manhã

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

28 de Novembro de 2011.

Hoje eu usei a palavra "convescote" duas vezes. Uma para enviar email para as avencas. Outra, já no final do dia. No aniversário de uma amiga estávamos discutindo porque as pessoas não fazem picnics no Brasil. Então eu propus que a gente organizasse convescotes mensais para avaliar os parques da cidade dentro da modalidade. Qual não foi a comoção despertada pela palavra: con-ves-co-te. Fiquei surpresa por um grupo até grande, até culto, de pessoas não fazerem ideia de que palavra era aquela. Pediram para repetir, o que fiz diversas vezes. Algumas rápidas, outras pausadas, desenhando as sílabas no ar. Houve concurso de soletração, e para que não houvesse mais dúvidas, peguei a caneta hidrográfica e escrevi na mão: CONVESCOTE. Verdade que o picnic já foi incorporado à lingua portuguesa e hoje atende por "piquenique". Mas eu cresci sabendo que convescote era a palavra certa para designar uma refeição coletiva feita ao ar livre onde cada membro contribui com uma parcela dos alimentos. Agora, chegando em casa, fui verificar no dicionário. E não é que convescote virou sinônimo?

Datação1889 cf. AGC

Acepções
 substantivo masculino 
Regionalismo: Brasil. Estatística: pouco usado. 
piquenique 

Etimologia
voc. forjado por Antônio de Castro Lopes (1827-1901, filólogo brasileiro) de conv(ívio) + 1escote

Sinônimos
ver sinonímia de piquenique

Adverbio do cotidiano

Sempre respiro.
Todo dia me deito.
Raramente me exercito.
Nunca como jiló.
A qualquer momento, posso mudar meu caminho.
Já morei em outro país.
De longe, todos são normais.
Gosto de ficar à toa.
Às vezes não sou feliz.
Amanhã, é outro dia.


Estava à caça de um lugar para trocar baterias de
relógios e encontrei este quase quiosque, do Seu Ismar, em Pinheiros. Parede
cheia de cucos de todos os tipos, espaço mínimo para trabalhar, mãos precisas
que não olham para pegar a ferramenta. Diferencia as chavinhas de fenda no tato
e reconhece a certa só de ver o relógio. Respondeu com segurança que poderia
trocar todas as baterias, lógico, independente da marca.
Fiquei olhando, encantada, sem perceber o tempo passar. O
filho dele, Rafael, garotão com cara de 19 anos, aliança brilhando na mão
direita, está lá claramente como aprendiz. O pai pega um relógio, examina,
chama o filho e diz "este você faz", e entrega o serviço facinho ao
garoto, que desajeitadamente abre e troca a bateria. Impaciente mas educado,
fico pensando o quanto ele escolheu este trabalho. Enquanto isso, o pai vai
trabalhando os mais difíceis. "É, este aqui é China, os outros são todos
bons". "Este não tem ponteiro de segundos, precisa esperar para ver
se o minuto muda", revela. Pega o próximo, tira os óculos, coloca o óculo
de alumínio no olho, examina o parafuso. A mesinha, as ferramentas, as gavetinhas
de guardar pecinhas devem ter a mesma idade do exercício dele, 30 anos.
Seu Ismar mostra orgulho e amor
no que faz, é uma delícia.

Lembrete para Margarida

Ah, minha querida, vá ser bonita, vá...

sábado, 26 de novembro de 2011

Sábado de Noemi

Jantares como aquele não eram novidade. As mesmas pessoas, o mesmo restaurante, os mesmos pratos. A diferença estava no sorriso. E só no dela...
Claro que já tinhamos visto seu sorriso em outras situações - em seu próprio casamento, nas festas de final de ano ou com a piada besta contada no churrasco. Aquele era novo.
Suas mãos insistiam em fazer malabarismos e piruetas, sorrindo junto com os lábios. Até os cabelos, quando balançavam, sorriam...

Isto sim é felicidade, pensei. Ultrapassa a fronteira do corpo, se espalha ao redor e marca um momento. Único.

Com este sentir, acordei no dia seguinte e sorri.
A sexta, foi de Celina...
Hoje, será um sábado de Noemi...


26 de Novembro de 2011

Ando pensando em amigos, pessoas na nossa vida. Quem vem, quem vai. Sobre nossa dose de responsabilidadde sobre cada um deles. Sobre qual nossa parcela de culpa e irritabilidade.
Ando pensando na forma bizarra que o ser humano tem de viver. Na necessidade quase desesperada de relação, interação, comunhão. Na frágil singeleza do ser. Ando pensando o quanto as importâncias dadas são virtuais. E como são efêmeras as colunas de estrutura de nossos papéis, que são concreto puro dentro do que projetamos e necessitamos nos agarrar, mas que tão surpreendentemente ruem e desmoronam como glacê de bolo colorido na saliva de uma criança. Ando pensando em crianças. Na brutal inocência da criança. Na violenta autenticidade de caráter e plenitude de uma criança que senta nos degraus da escada e espera sua vez de brincar. Ando pensando, porque é exatamente isso que me abate. Ando pensando em algodão-doce.  

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

25 de Novembro de 2011

Fiquei assustada, óbvio. A gente não recebe esse tipo de coisa assim...
Vou começar a mentir o número de horas que trabalho por dia. Minha irmã está fazendo uma lista de colegas antroposóficos e psiquiatras homeopatas. Por que será que todo mundo sempre acha que eu preciso de um psiquiatra?
Estou na condicional. Tenho de mandar relatórios diários e prometer parar a cada 3 horas. Eu vou mentir. Lógico. Todo mundo mente nessas coisas.

Cenas de uma manhã humana

Na mesa atrás da que eu estava sentada, um grisalho engravatado fala para outro não engravatado:

Passe tudo para o seu nome, se separe da sua mulher, emancipe a sua filha e não deixe rastro algum.

Já na rua, pensativa, uma grisalha que não está grisalha chora e um policial segura a sua mão.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Parsifal, muito prazer

Quem procura, acha.
Pode até ser que voce não entenda o que encontrou, mas está lá. Pediu? Levou!
Deve ser o que chamam de "universo conspirando a favor". Dá um pouco de medo, imaginar que tudo isso, acima das nossas cabeças e que continua até sei-la-eu-onde, conspire a favor. Já pensou se conspirasse contra?
Deve ter sido por causa de uma conspiração deste tipo que ele apareceu.
Bonitão, loiro - parece que até aquele momento ninguém era tão bonito quanto ele - herdeiro de reinos e honras. Um verdadeiro cavaleiro, à moda antiga mesmo. Só ele não sabia disto. Ainda.
Mãe superprotetora - até aqui, nada novo - em um momento de sua vida, nosso jovem rapaz resolve abrir suas asinhas. Mãe tem que ter limite. Se não tem, os filhotes pulam fora. Foi o que ele fez.
Tolo, como deve ser um jovem, iniciou seu caminho de libertação montado em algo que muito dificilmente chamariam de cavalo. O bicho era um horror...
Pocotó aqui... pocotó acolá, essa historia que dura anos e anos de estrada teve de tudo: coragem, traição, bruxas, fadas, arrependimento - todos os ingredientes para uma novela das oito. Ou das seis.  Detalhes mais minuciosos, o Google pode contar.
Agora, prá desvendar... o esforço terá que ser maior.
Parece que estou no início desta jornada...

24 de Novembro de 2011.

"O nome do que você está é Síndrome de Burnout", disse o terapeuta.

Margarida

Ela não gostava do seu nome. Achava que não combinava com sua pele ainda sem uma ruga. Suas xarás já eram tias-avós, na escola seu nome era pronunciado pelos colegas acompanhado de um risinho ou com uma voz de pato esganiçada. Pensou em se dar um apelido, mas não gostava de Marga ou Guida. Queria mesmo era se chamar Beatriz para poder ser Bia. Soava tão bem aos seus ouvidos: Biii...aaa.

Sua mãe escolhera o nome em homenagem à flor, seu pai não se opôs, apesar de preferir as orquídeas. “Margaridas são tão comuns”. Ela mesma não sabia qual era sua flor predileta, talvez nem gostasse de flores. Preferia os gatos que se enroscavam nas suas pernas e pediam por água e comida. Para piorar, era feia, e toda mulher com nome de flor tem a obrigação de ser bonita. Seu cabelo ficou indeciso entre o liso materno e o crespo paterno. Não era loira como a mãe nem morena como o pai. Os olhos castanhos ficavam levemente verdes sob a luz do sol, mas faltava um brilho, já tinha até perguntado para a mãe se não teria catarata. A mãe mandou a menina passear. E para piorar ainda mais, as espinhas tinham deixado marcas não só no seu rosto, mas também em todo o seu colo. Que espécie de margarida era ela? Um bem-me-quer que parecia terminar em mal-me-quer. Enquanto as amigas choravam pelos primeiros namorados, Margarida lia os romances da Danielle Steel, escritora preferida da sua mãe, e acompanhava a novela das nove com aflição até o capítulo final. Por que as mocinhas sofriam tanto para se casar com o galã? Dos romances se interessou por poesia, aprendeu a recitar algumas, em voz quase inaudível, e conquistou o sorriso de um colega que gostava do mesmo poema que ela.

No final da adolescência, algumas flores secas de Margarida caíram, o caule cresceu um pouco mais e tomou uma forma robusta, de planta madura que floresce quando a natureza determina e não quando quer. Do colega ganhou o primeiro beijo e o primeiro toque nos seios, por cima da blusa, como se fosse um descuido. Margarida fingiu que não percebeu. Ela sabia que beijos melhores ainda viriam, mas aquele havia virado uma tatuagem. Nessa noite não dormiu. Passou a madrugada inteira alisando Pablo, o gato de pelos alaranjados, e sussurrando nos ouvidos do bichano “eu beijei eu beijei eu beijei eu beijei”. Escreveu sua primeira poesia, com rimas pobres e nenhuma métrica, mas assim como os beijos melhores que viriam, outras ainda seriam desenhadas.

E os beijos vieram, com o mesmo colega que sorria ao ouvir poesia e que também a levava ao cinema, brincava com cachorros e gatos, passeava com ela de mãos dadas, pagava as contas nas lanchonetes e a pediu em casamento. Margarida passara tanto tempo pensando na sua feiura que nunca se imaginara vestida de noiva. Escolheu um modelo rendado quase infantil e cedeu à vontade da mãe, adornando os cabelos soltos e escovados com uma tiara de margaridas naturais. Nos pés, uma sapatilha branca que lembrava a das bailarinas que ela admirava e nunca conseguira imitar. Quando chegou ao altar, com as mãos geladas agarradas às do pai, o marido, com os olhos marejados, sussurrou ao seu ouvido um “você está linda” e Margarida sorriu, acreditando. Se ela estivesse na frente de um espelho, veria seus olhos brilharem.

Margarida não sabia como ser uma esposa. Continuou no seu trabalho de secretária durante o dia e quando chegava em casa à noite, depois de um metrô e um ônibus, preparava o jantar que eles comeriam juntos, lavava e passava as roupas enquanto via a novela e estava sempre disposta quando ele a procurava. Ela gostava. Antes de dormir, pingava atrás das orelhas duas gotinhas de um perfume delicado extraído de flores naturais. O marido a chamava de “minha Margarida” e ela não sabia, mas era feliz nesse jardim.

Nos finais de semana eles se dividiam na faxina, visitavam os familiares, caminhavam no parque, iam ao cinema e liam poesias juntos. Ela aprendeu a beber um pouco de vinho, uma taça quando os amigos do marido iam a sua casa comer uma pizza. Margarida ria com eles e até passou a trocar confidências com as esposas. Quando elas reclamavam das dificuldades do casamento, Margarida sorria e olhava para o marido no outro lado da sala, com vontade de abraçá-lo. Talvez ela ainda não tivesse aprendido a ser uma esposa verdadeira.

Numa noite em que se preparavam para dormir, ela afofando os travesseiros e esticando o lençol com as mãos, ele disse que queria um filho. Margarida correu para o banheiro segurar o choro. Não se sentia preparada para ser mãe nem para contar a ele. Quando confirmou que estava grávida, um mês depois, engoliu as lágrimas amedrontadas para não estragar a alegria do marido. Ela teria nove meses para se acostumar com a ideia de um bebê crescendo dentro dela e isso aconteceu logo que ela ganhou da sogra os primeiros sapatinhos. Margarida passou dias com eles na bolsa e sempre que se via sozinha, no escritório, no refeitório, no ônibus ou em casa, ela vestia aqueles sapatinhos nos dedos indicador e médio e os balançava. Margarida perdeu a vergonha de cantar, comprou livros de histórias infantis e pediu para a mãe lhe ensinar tricô. Juntas fizeram mantas, casaquinhos, meias e mais sapatos. O chefe deu o berço que ela queria, todo branco, e as colegas do escritório deram mamadeiras, chupetas e muitos pacotes de fralda. Foi Magda, a outra secretária e mãe de duas crianças, quem disse que ela precisaria de muitas. Margarida achou um exagero, mas opiniões como essa ficavam guardadas na sua cabeça. Em retribuição, Margarida sorria e levava um bolo de cenoura com cobertura de chocolate feito por ela para o café da tarde. O chefe era quem mais comia.

Margarida acompanhou o crescimento da barriga todos os dias, de manhã e à noite. Pensava nas fases da lua e achava seu ventre ainda mais bonito. Passou a rir quando deixou de enxergar seus pés. Achou estranho quando sentiu o bebê se mexer pela primeira vez, lembrou de um filme com uma mulher grávida de um alienígena, mas esse foi outro pensamento que ficou guardado na sua cabeça. Depois acostumou.

Antes de dormir, Margarida e o marido acariciavam a barriga de lua e imaginavam como seria o bebê. O maior medo de Margarida era que ele tivesse seus olhos. O marido a beijava e a chamava de boba. Haviam decidido juntos não saber o sexo da criança com antecedência. “Pra quê?”, era o que Margarida respondia diante da ansiedade dos parentes e amigos. Ela passou a entender porquê as gestantes dizem que o importante é que a criança nasça com saúde. Queria seu bebê respirando e depois sorrindo. Os detalhes, ah, esses viriam com o tempo e o maior desejo de Margarida era poder observar essas descobertas.

Os dois montaram o berço e a cômoda. Margarida costurou a cortina e o marido deixou a parede amarela, tão clarinha quanto um raio de sol no inverno. Depois do jantar, os dois passavam uns tantos minutos olhando para as paredes e para o berço, cada um guardando seus próprios segredos.

Com quarenta semanas de gestação, o médico sugeriu uma cesárea. Margarida não entendia essa interferência. “Vai sair, ele vai sair”. Foi depois de um almoço na casa da mãe que Margarida sentiu uma cólica forte. Que aumentou. E aumentou mais. Uma dor assim, só podia ser a vida querendo romper. O marido não conseguia colocar a chave no contato, foi o pai quem a levou para a maternidade, o marido segurando sua mão. Margarida respirava.

Um grito saído de um fundo que Margarida não sabia existir e a vida rebentou, pequena e luminosa, forte e decidida. Um clarão, um estrondo. Deus. Então era isso. É para isso que vivemos? É esse o grande mistério da vida? Deus falava com ela por meio do choro de uma criança. A vida fazia sentido. “É uma menina”. Onde estavam os olhos de catarata?

Nos seus braços, Margarida encontrou o que nem sabia que procurava. Deus pode ter nos inventado, mas não viu nenhuma pessoinha sair de suas entranhas. O mundo ficou pequeno. Aquele momento era o epítome da vida humana.

A menina mantinha os olhinhos fechados e não chorava. Era a mais bela criatura que Margarida já havia visto em toda a natureza, mais bonita até do que os olhos das onças que admirava desde criança. Mais arrebatadora do que qualquer poesia já escrita. Mais nobre do que a arte. Mais encantadora do que as manhãs de outono no parque. Mais entorpecente do que uma taça de vinho. Mais cheirosa do que perfumes florais. Mais brilhante do que uma estrela que apelidou de “minha”. Nomeou-a Jasmim. Uma beleza assim só pode receber um nome de flor.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

22 de Novembro de 2011.

Na feira livre da praça hoje cedo:
- Olha lá, minha senhora! Comprando nessa barraca você ajuda as Casas André Luiz. Eu sou o André, ele é o Luiz.

Notas no fim de um dia

O café ao lado do meu escritório é o máximo. O café em si é ótimo e quando eu peço um carioca eles me dão um expresso com uma chaleirinha com água quente que é um charme. O pão de queijo, os lanches e os bolos são uma delícia. E o melhor desse café: os funcionários. São descontraídos e educados. Quando eu peço café para viagem eles preparam no maior capricho. E quando a gente dá caixinha, eles gritam em coro: "obrigado". Alegram o meu dia.

Ah, o ascensorista do meu prédio também é muito bacana. Fico feliz quando vejo que é ele quem vai me guiar até o terceiro andar (não, eu desço pela escada).

Da dificuldade de se educar um filho

1. O melhor aluno da escola queria estudar Engenharia na USP e foi, mas demorou mais tempo do que os outros alunos para se formar, pois as drogas e as festas descobertas na faculdade lhe tomaram uns dois anos.
2. A melhor aluna da classe estudou desde criança para ser médica e passou no Vestibular de uma excelente universidade pública, mas morreu no final do quinto ano da faculdade.
3. O maconheiro queria fazer esses cursos de bicho-grilo, claro, e fez. Tornou-se professor do Ensino Médio, depois da própria universidade onde estudou, depois casou e abriu uma empresa de consultoria e hoje está rico e feliz com seu trabalho.
4. A aluna média mas extremamente responsável e preocupada com o que pensam dela começou uma faculdade e largou, terminou duas e pensa em fazer a terceira, mas não sabe bem qual.
5. O garoto que só ia bem nas aulas de Educação Física não virou atleta, mas se apaixonou e foi trabalhar para pedir a namorada em casamento. Hoje sustenta a família com sua pequena empresa.
6. O bagunceiro que foi expulso de duas escolas um dia resolveu estudar para o vestibular de Medicina e fez dois anos de cursinho. A notícia de que havia sido aprovado numa faculdade pública chegou quinze dias depois da sua morte.
7. O menino que queria ser executivo e um dia presidente de uma empresa multinacional fez faculdade de engenharia, especialização em administração e MBA e hoje, tão novinho, já é diretor da multinacional em que escolheu trabalhar.

sábado, 19 de novembro de 2011

19 de Novembro de 2011

- Eu quero cancelar o serviço.
- Qual seria o motivo?
- Bom... eu estou sem sinal há mais de uma semana. Entrei em contato com você, que até foram muito gentis em um primeiro momento. Agendaram para a assistência técnica vir resolver o problema. Eu acordei cedo, deixei de ficar com a minha mãe no hospital, fiquei plantada como uma palhaça o dia todo, e o técnico não apareceu. Quando entrei em contato com vocês me informaram que o técnico havia resolvido mudar o dia da visita. Sem me avisar! Para um dia que não seria permitido entrar no meu condomínio. Depois de inúmeras solicitações e ligações um atendente disse que resolveria a situação e ficou de me ligar em 10 minutos. Eu estou até agora esperando, então resolvi mudar para o concorrente. Por isso.
- (levantando a voz e transparecendo bastante impaciência) A Senhora veja bem, a assistência técnica é terceirizada e a gente não tem nada a ver com alteração da visita...
- Sinceramente, não me interessa a logistica interna de vocês. Eu quero cancelar o serviço.
- (mais exaltado) Ah! Então só a senhora fala, e eu não posso falar?
- Eu não estou pedindo explicações. Eu quero apenas cancelar o serviço.
- (tom sarcástico) Você é quem sabe... Qual endereço devo mandar o boleto de multa?
- Multa? Como assim multa?
- (rindo) Ah! Agora a senhora quer conversar! Antes não queria, agora eu tenho de explicar?
- Tem sim senhor! Eu não quero que o senhor me convença a não cancelar o serviço, mas o senhor tem de me explicar porque e o que está me cobrando para cancelar.
- (sarcástico) Será cobrada uma multa de fidelidade proporcional no valor de R$300.
- (indignada) Eu não vou pagar isso! Fidelidade de quê? De TV à cabo?
- (gritando) Olha, minha senhora! Eu vou mandar o boleto, se a senhora vai pagar ou não é problema seu. Eu não vou deixar de te cobrar a multa porque você está me ameaçando.
- Eu não estou ameaçando nada. Só acho que não tem propósito nenhum cobrar essa multa. Vocês não me ofereceram nenhuma exclusividade por ela.
- (gritando ainda mais) Está ameaçando! Está ameaçando sim!
- Você jura para mim que esse é o seu protocolo de atendimento? Que bater boca com o cliente que quer cancelar a conta faz parte do protocolo de atendimento? Jura mesmo que vai ficar batendo boca comigo?
- (cínico) Alô... Alô... Não estou ouvindo a senhora....
- Ok, faz o seguinte. Manda o boleto, mando o que for. Só quero me ver livre da SKY o mais rápido possível!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Encontros

Chile, Argentina, Venezuela e Brasil encontraram-se para comer camarão na moranga - oferecido e feito pela Venezuela para fazer uma festa de despedida para Argentina, que está de mudança para o futuro reino de Kate e William.
Na verdade, somente tres puderam degustar a iguaria, pois Chile marcava sua presença de maneira virtual, via Skype, pois já retornou para a terra natal de seu marido Suiça, levando, obviamente, seus filhos Suiça Jr e Brasilzinho.
Este encontro, não era o primeiro e muito provavelmente não será o último deles. Mas foi único.
Depois de quatro anos de convivencia intensa, cada um dos presentes estava começando a trilhar um caminho diverso daquele que, como já dito, compartilharam nos últimos quatro anos.
Chile foi falar francês...
Argentina vai aprimorar seu inglês...
Venezuela busca carteira assinada...
Brasil virou avó e vai escrever...
E a saudade vai apertar. Ô se vai...

Não atirem no humorista. FolhaSP 18/11/2011.

TENDÊNCIAS/DEBATES

Não atirem no humorista

EDUARDO MUYLAERT



O humor é livre no Brasil. Sua dignidade constitucional foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal como parte da liberdade de expressão e de criação artística.
O direito ao sarcasmo foi garantido na chamada "Adin do Humor", relatada pelo ministro Ayres Britto. A superada Lei de Imprensa já não tinha mais eficácia. A liminar de 2010 veio suspender regra da lei eleitoral que cerceava pilhérias envolvendo candidatos.
"Nós vamos liberar o humor", diz o ministro Ricardo Lewandowski. "Mas vedar o humor? Isso é uma piada", lança o ministro Peluso.
O presidente do STF já julgara, no Tribunal de Justiça paulista, que não se pode reprimir aos humoristas profissionais e à imprensa, ainda quando demasiadas na forma e cáusticas no conteúdo, as expressões artísticas sob as quais exercitam o direito da crítica.
Decorre da liberdade constitucional do humor que eventual excesso é preferível a qualquer censura ou repressão, pois é próprio do humor o exagero, a hipérbole. E o simples fato de alguém eventualmente se sentir ferido não pode restringir a atividade, dada a índole subjetiva das reações individuais.
Muitos objetam com os possíveis excessos, mas a jurisprudência se inclina claramente pela liberdade. Para o STJ, não cabe aos tribunais dizer se o humor praticado é popular ou inteligente, de bom ou de mau gosto, classificação considerada discriminatória e odiosa no voto da ministra Nancy Andrighi. Só a crítica pode avaliar o humor, reconhecido como atividade artística.
As pilhérias envolvendo políticos, policiais, jogadores de futebol, atrizes, entre outros tantos, revelam que o tempo da censura está ultrapassado. Até mesmo a figura do presidente da República tem sido objeto de humor.
A liberdade de expressão incomoda, e sempre houve tentativas de cercear sua atividade.
Quem não se lembra da perseguição aos que ironizavam a ditadura? E das ameaças aos que brincaram com o profeta ou com a religião?
Todas as vezes em que a sociedade optou pela repressão, escreveu páginas trágicas. Nova York pediu tardiamente desculpas pela prisão de Lenny Bruce, comediante cujo humor não tinha sequer a ousadia da comédia das noites de sábado.
A liberdade é essencial ao humor. É próprio do humor o contrassenso, o absurdo, o contrário de tudo que é tido como normal. Parte da graça de um comediante, ensina um manual, é que pode dizer coisas que uma pessoa normal não pode ou não quer dizer.
A crítica, a discussão na imprensa e a opinião pública é que poderão servir de parâmetro para essa nova geração de humoristas, que, às vezes, exageram ao brincar com fatos históricos ou valores sobre os quais não pararam para refletir.
A questão da liberdade do humor é séria. Não se pode levar a sério o que é mero humor, produzido num contexto de humor, com a intenção apenas de fazer rir. Essa liberdade a Constituição assegura e nossos tribunais garantem.

17 de Novembro de 2011. (Ontem)

Na estação de Pirituba fizeram uma pintura de Michael Jackson menino. Duas jovens negras, muito bonitas e produzidas, estão vestidas para um inverno polar. Um ambulante passa vendendo chocolate. Sulflair à R$2. Um homem de meia idade está com uma sacola preta cheia de mercadorias chinesas para vender. Ele checa uma por uma, e abre as embalagens experimentando os produtos. Palhetas para limpador de parabrisas. Chaveiros de esqueletos fluorescentes nas cores laranja, amarelo e verde-limão. Dois ambulantes passam vendendo amendoins e chicletes. R$1. Eles se vão. Todos no vagão mastigam. O homem de meia idade mostra para um senhor careca de orelhas grandes os produtos. O senhor parece o Mr. Magoo. O homem de meia idade puxa uma cordinha de um chaveiro de caveira amarelo. A caveira bate o maxilar frenéticamente. O adolescente gordinho que está em pé na porta do trem se vira interessado no barulho. Uma mulher vestida com roupas esportivas de marca dos pés à cabeça insiste em ficar de pé no meio do vagão, embora haja assentos vagos. O homem de meia idade se levanta e se despede do senhor orelhudo. O senhor orelhudo possui uma aparência bastante digna. O homem de meia idade desembarca na estação Vila Clarice. A mulher de roupas esportivas também.  O senhor orelhudo de aparência digna se ajeita no assento, ocupando dois lugares. Ele aperta uma narina com um dedo e assoa o nariz no ar. Toda sua dignidade se vai no assoalho do trem. A jovem com medo do frio polar chora.

Frases bem ditas

"Eu te amo", sempre. Se você diz "eu te amo" é porque existe alguém que te conquistou e que torna o mundo melhor para você.

"Estou com saudades" significa que você guarda pessoas, coisas, momentos, sensações e lugares no coração.

"Obrigado". Alguém fez alguma coisa por você, pequena, grande ou enorme, mas algo foi feito para você.

E a que eu mais gosto: "amigo de infância". Ter um amigo desde a infância é ter encontrado uma parte de você que não tem seu sangue, mas tem parte da sua alma.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Morte minguante

Se eu morrer agora...

Nada indica que eu vá morrer agora. Estou na sala de uma casa rodeada de pastos por onde circulam também cachorros e pássaros, numa região em tempos de paz, longe da estrada e da rota dos aviões. Só umas mariposas à procura da luz que me serve passam por cima da minha cabeça silenciosa.

Choveu o dia todo. Duvido que alguma palha fugida de um cigarro aceso possa colocar no mato um fogo capaz de me encontrar aqui parada. Não ouço mais trovões e ao redor dessa casinha a árvore mais alta é uma roseira.

Sinto meus órgãos e células em bom funcionamento. Nenhum câncer sorrateiro me corrói, o colesterol está como deveria estar e a pressão...não há nenhuma pressão por aqui. Pareço uma menina, foi o médico quem disse.

Então é quase impossível que eu enfarte agora, sentada à mesa de jantar em frente a um bloco de papel e uma caneta. Com exceção de um tio que sofreu um derrame no meio da noite, todos aqueles que carregaram o meu sangue antes de mim morreram porque chegaram ao fim. Portanto é pouco provável que o fim chegue até mim e chegue agora.

Mas, como não duvido da criatividade da vida e das razões da natureza, se eu morrer agora, vou tomada por essa alegria que nos pega distraídos no dobrar de uma esquina como uma lufada, mas com a delicadeza de um assopro. Essa alegria que entra pelos dedos dos pés e das mãos e caminha como se andasse sobre pétalas de rosas até o útero, centro da existência. Essa alegria tão quentinha quanto uma família reunida debaixo de uma lâmpada para dividir o pão fresco no fim de uma tarde fria e chuvosa.

É difícil que eu vá, mas se eu morrer agora, levo grudada na retina essa lua minguante que do lado de lá da janela me seduz e me reduz.

Quando eu era criança, gostava de ouvir minha avó dizer tão molemente a palavra “minguante”. Eu ficava ali agarrada à sua saia, olhando para cima na esperança ainda vã de que um pedacinho quente e dourado da lua escorresse até as minhas mãos.

Essa mesma lua minguante que hoje aponta para o nascer de um sol que, eu sei, me esquentará amanhã, mas se eu morrer agora...

Luciana Gerbovic
Outubro/2011

Constatação

Acho que estou na contramão.

Pensamento do dia

É difícil manter o peso, dificílimo perder.
É difícil ganhar dinheiro. Pra mim, então, muito difícil.
É difícil manter o casamento. Muito muito difícil.
É difícil criar filhos. A missão mais difícil de todas.
É difícil manter a casa limpa e arrumada. Quase impossível arranjar alguém para trabalhar nela enquanto eu trabalho fora.
É difícil arranjar tempo para ler, escrever, namorar, passear, sair com os amigos.
É difícil encarar o trânsito de uma cidade super lotada de pessoas e coisas.
É difícil viver com a violência urbana e a falta de ética.

Uma coisinha fácil. Eu queria apenas uma coisinha fácil de se conseguir.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Boa noite, São Paulo!

Nove da manhã, entrando no carro em frente a uma escola infantil: um homem passa correndo e gritando "pega ladrão pega ladrão pega ladrão". Corre tropeçando nas próprias pernas e no desespero, mas sua moto foi embora com quem não trabalha para possui-la.

Alagados, Trenchtown, Favela da Maré, a esperança não vem do mar, nem das antenas de TV, a arte de viver da fé, só não se sabe fé em quê

Meio dia, dirigindo um carro a vinte por hora, velocidade média possível na Alameda Santos: dois policiais numa moto fazem sinal para eu parar e vão ao encontro de um carro de bombeiros para socorrer uma mulher grávida caída na rua com as pernas ensanguentadas.

Pois paz sem voz, paz sem voz, não é paz, é medo

Oito na noite, dentro do carro esperando o semáforo liberar o caminho: uma mulher bate na janela do meu carro gritando peloamordedeus para eu deixá-la passar assim que o semáforo abrir pois ela tem um acidentado dentro do carro dela, logo atrás de mim. Eu entendi e fiz o que pude, os outros não. Ela não tinha como avisar todos os motoristas.

And so Sally can wait, she knows it´s too late, as we´re walking on by

Oito e meia da noite, chego em casa: não, aqui na cidade que me pariu, minha cidademãe, isso não é sinônimo de segurança. Talvez de um pouco de descanso, um pouco apenas.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

14 de Novembro de 2011.

Uma semana. Faz uma semana que meus canais favoritos da Sky estão digitalizados e impossíveis de serem assistidos. Uma semana. Só meus canais favoritos. Nada de "House", de "The Good Wife". Nada de ver o Agente Stabler em "Law and Order - SVU". Nada de assistir reprise de "Friends" ou meu sagrado noticiário matutino na Globo News. Nada de nada. Foram várias ligações até agendarem uma visita técnica para hoje, às 8h. Ou a partir das 8h. Meio de feriado, meio chato. Acordei, me troquei. Fiquei apresentável para a visita do doutor. Resumo da ópera: ele nunca veio. Então foram mais tantas ligações de protesto, muitos nervos exaltados e mãos perdidas com atendentes de robotizadas. Deus! Quem inventa esses protocolos de atendimento? Ninguém sabe ser flexível? Reclamei no Facebook. Reclamei no Twitter. Reclamei no "Reclame aqui" (afinal o nome pedia que eu reclamasse). Mais um tanto de ligações e eu perdi uma série de tijolinhos no céu por descarregar propositalmente minha raiva em pessoas que eu sabia "estavam fazendo apenas seu trabalho". Enfim, vou para retaliação final. Cancelo meu plano de serviços. Contrato a concorrente. E quando tudo parecia tão vingado, ligo a TV pela primeira vez no dia e... Todos os canais funcionando. Brilhando e sorrindo para mim.

domingo, 13 de novembro de 2011

13 de Novembro de 2011

Passei o dia limpando a casa. Faxina de verdade nessa minha nova fase "européia" de ser. Tirei pó, aspirei, passei pano no chão. Afofei as almofadas e lavei roupas. No final do dia estava tudo tão impecável que brilhava. Então recebo amigos em casa, o Dri veio com a Paçoca. Paçoca foi resgata me uma noite de terror, no escuro do centro, quando todos voltavam do Bar B para casa. Virou cã de estimação. E sem protesto algum, permiti que Paçoca comesse pipocas em cima do sofá. Como agradecimento, lambeu os dedos do meu pé sem parar. Estamos fazendo progressos no ramo das neuroses pessoais.

sábado, 12 de novembro de 2011

Day after

Se ontem anunciavam o mais cabalísticos dos dias para a Humanidade desta era, esqueceram de informar que, da mesma forma que depois da tempestade, vem a bonança - para um dia cabalístico também existe um "day after".
E esse, que até tinha pinta de bacanudo, ferrou tudo.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

11.11.11

Talvez eu fosse mais feliz se acreditasse mais. Mais em mais coisas como, por exemplo, um acontecimento capaz de mudar o mundo ou a humanidade só porque hoje é dia 11.11.11. Quer dizer, hoje é 11.11.2011, deve ter sido mais assustador ou encantador mesmo em 11.11.1111. Escrita, a data perde a graça: 11 de novembro de 2011. E piora: onze de novembro de dois mil e onze.

Não sei se tudo isso é apenas uma brincadeira. Para alguns acho que não. Para mim é apenas uma data bonita. Se eu estivesse grávida já aos nove meses, pensaria numa cesárea. Não estou, portanto só penso na beleza dos números combinando. Gosto de números que combinam. Por exemplo, alguém que nasceu em 07.07.70. Ou que casou em 02.03.04. Mas prefiro os pares. Acho número ímpar extremamente antipático e egoísta: na divisão por dois sempre sobra um. Gosto do 8, essa volta infinita. Nasci no dia 28, que bom. A médica da mamãe quem escolheu, não por causa do 8 ou do 2 ou dos dois juntos. Era o melhor dia para ela arrancar a menina que não queria sair do útero.

Mas, voltando, se eu acreditasse que o mundo dá a mínima para esse calendário inventado por nós, talvez eu fosse mais feliz. Mas o mundo, o planeta Terra, o universo em que ele flutua, nada disso está se importando com a gente e com as nossas invenções, desde o calendário até a bomba atômica. Se um dia acabar por culpa nossa ou não, a coisa começa de novo em algum canto por aí. Melancholia está aí, nem um pouco preocupada com a gente, pessoinhas que não enxergam um palmo a frente do umbigo, muito menos se hoje é dia 11.11.11 ou 25.07.69 ou 08.05.12.

Até o fim do mundo, resta-nos viver com a dor de se saber sozinho no universo.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

10 de Novembro de 2011

Mami ressona na cama do hospital. Procedimento bobo de última hora, mas que deu internação, muita espera, horas de pé e a mudança do meu escritório de trabalho para um sofá no Hospital São Luiz. Para comer só quiche ressecada de estufa do café ou um desses lugares de firma em volta do hospital. Muito sono e uma conta salgada de estacionamento. Ela está se divertindo. Achando ótima toda atenção recebida, e aproveitando a oportunidade de dormir o dia todo e refeições na cama como se fosse um SPA 5 estrelas. Termino o dia pensando como eu não gostaria de uma internação de 3 dias. Precisava tanto de uma desculpa para sumir e desligar.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

09 de Novembro de 2011

Fiz duas aulas seguidas de ballet. Fazia tempo que nada me dava tanta vontade de treinar, de aprender, de me superar. Ando longe, bem longe de posar de candidata ao Bolshoi. Mas eu gosto da meia ponta. Gosto da meia-calça. Dos exercícios de barra, do porte de princesa. De brincar de bailarina. Mesmo fazendo as sequências básicas, acho lindo. Gosto de quem sou de coque e sapatilha.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

À espera do amor na Paulista

Eu não sei a que horas ela chega nem a que horas vai embora, se é que vai. Mas ela está no canteiro central da Paulista, na altura do MASP, em todas as horas do dia em que passo por lá: cabelos encaracolados grisalhos presos num rabo de cavalo bem trabalhado, meia soquete branca dentro de um sapatinho de salto preto, saia rodada na altura dos joelhos que mostram suas pernas finas, blusa abotoada até o pescoço por baixo de um blazer marrom, com as duas mãos apoiadas numa sombrinha fechada que toca sua ponta no chão. Ao seu lado, duas malinhas.

Na primeira vez que a vi, ela conversava com um motorista. Por causa das malas achei que ela pedia dinheiro para ir a algum lugar. Mas tantos dias depois, será que ela já não teria juntado dinheiro para ir sei lá pra onde quer ir?

Hoje ela estava lá de novo e eu descobri que ela não vai. Ela espera. Espera um amor que se perdeu apenas fora dela. Um amor desses tão grande que não precisa ser vivido. Um amor que ela espera passar dentro de um carro, de um ônibus ou a pé. Tanta gente passa pela Paulista, por que não o seu amor? Um amor que ela carrega há tantos anos dentro de si (quantos mesmo?) e que bastaria ser apenas sentido; mas, ah, agora, já com tantas rugas no corpo e obrigações cumpridas, por que não tentar vivê-lo?

Talvez ele passe até de bicicleta.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

10 motivos para uma segunda-feira feliz

1. Chai para viagem no café ao lado do escritório
2. Uma semana pela frente com a possibilidade de novos negócios
3. Todas as pessoas que eu amo estão com saúde (só isso já bastaria, mas vou procurar os outros nove)
4. Saiu a tradução direta do russo de Guerra e Paz, pela qual eu tanto esperava
5. Semana com encontro sobre Ulisses
6. Meu filho completará o primeiro ano de vida no fim da semana
7. Acordei sem a febre com a qual fui dormir ontem
8. Um dia com sol é sempre mais alegre, por mais que eu goste de um dia cinza para trabalhar
9. Almoço no Paribar, meu pedaço de Paris em São Paulo
10. E para quem gosta, Zezé e Luciano não se separaram!

domingo, 6 de novembro de 2011

Cadê o texto que estava aqui?

A pessoa acorda num domingo ensolarado depois de nove horas seguidas de sono, o que, para essa pessoa, atualmente, é o maior presente que ela poderia ganhar. Nem a lembrança de sonho conturbado, que a fez acordar com a música Cuitelinho na cabeça, bem naquele trecho "a tua saudade corta como um aço de naváia", sabe?, conseguiu esfumaçar a aura de um domingo ensolarado após nove horas de sono.

Um texto italiano para estudar, um filho para brincar, um filho para buscar, um café da manhã para tomar e a pessoa sente vontade de escrever um texto alegre, leve e acolhedor. Um texto que combine com uma manhã ensolarada de domingo. Um texto que nos abrace, sabe?

Então é esse texto que a pessoa fica procurando no coração, depois na mente e por fim nos arquivos. Mas esse texto, não aparece.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Presente de Grego

Europa: escândalo político, caos bárbaro, anarquia catastrófica, tragédia apocalíptica, hipocrisia histérica. Obrigado, caros gregos, diz também a etimologia.

Europe : le scandale politique, le chaos barbare, l'anarchie catastrophique, la tragédie aopcalyptique, l'hypocrisie hystérique. Merci, chers Grecs, dit aussi l'étymologie

Hervé Le Thelier, no Check-list do Le Monde.

04 de Novembro de 2011.

5 Barras de chocolate
1 Pote de Nutella
3 Miojos sabor Legumes
1 Pacote de pão de queijo congelado
1 Pacote de salgadinho de arroz japonês apimentado
3 Caixas de chá (sabores diversos)
1 Ramalhete de Gérberas

Eu nunca sei diferenciar quando estou triste ou quando estou deprimida. Como não tenho nenhum motivo para estar triste, imagino que esteja deprimida. O que acontece quando isso acontece é que eu fecho a ostrinha, desligo o celular. Como porcaria e durmo por dias. Bom, eu não tenho mais "dias" para dormir. Mas vou dormir o final de semana inteiro. E me entupir de gordura trans.

Contradição

Lóg. Princípio lógico de que uma coisa não pode ao mesmo tempo ser e não ser, o que implica o caráter verdadeiro da exclusão do contrário (Aulete)

Todos sabemos o que é contradição, mas só as mães SENTEM a contradição.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

03 de Outubro de 2011

Fiquei cética. Não acredito mais no amor.

Shoes are a girl´s best friend?

Então no sonho dessa noite eu fui chamada para ajudar uma indiana (que pela fisionomia era chinesa) que tinha tentado se matar. Cheguei à noite num hotel de construção típica chinesa, com aqueles telhados pontudinhos e lindos jardins espalhados pelo local, e a indiana que na verdade era chinesa me esperava com um belíssimo robe de seda vermelho. Ela tinha aquela pele branca de porcelana chinesa mesmo, os cabelos negros compridos e lisos estavam soltos e as mãos delicadas tremiam ao me mostrar a carta que ela havia escrito antes da tentativa de suicídio que não deu certo. Quis se matar por causa da traição do marido. Eu não falei nada e ela foi dormir mais tranquila, foi o que ela me disse.

Enquanto ela dormia eu rodei pelo quarto do hotel, que era enorme, quase a totalidade da hospedaria, e descobri no armário lindos pares de sapatos vermelhos, pretos, azuis, verdes, beges. Prada, Louboutin, Channel, D&G, Dior. Roubei quase todos e larguei a indiana-chinesa-deprimida dormindo.