terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Alguém falou em culpa?

A babá já deixou claro que ela não ganha para acordar à noite e como você não encontra outra para substituí-la, aguenta. Mas essa noite você está sozinha: você e as crianças. E antes de se recolher, pontualmente às nove da noite, a babá avisa que amanhã de manhã irá ao médico. Ah, claro, último dia de aula do seu mestrado e no escritório um monte de coisas te esperando, mas tudo bem, você corre o risco de ser tão grossa e estúpida com a babá – você sabe do que é capaz nesses momentos, que engole seco e pensa que amanhã você vê como se vira.

Aí você tenta fazer uma criança dormir das nove às onze da noite. Duas horas com ela virando de um lado pro outro e te chamando e resmungando e pedindo peta e tetê e mãe vem aqui e você com calma pedindo para ela dormir até que chega ao limite e a manda fechar esses olhos e calar a boca. Ufa. Deita às onze mas meia-noite a outra chora porque quer porque quer a mamadeira e você dá. Coloca-a de volta no berço uma da manhã e a outra começa a choramingar. Você larga as duas no quarto e tenta dormir, mas aqueles resmungos não deixam. Solta um shhhhhhiiiiiiiiiiiiiiii bem alto e todos calam. Até às três. Acessa o Facebook conta até mil reza mesmo sem saber pede ajuda aos anjos mas às cinco entra no quarto e dá um berro. Um belíssimo calem a boca. Volta para a cama e pensa se vai tomar raticida ou enfiar a cabeça no forno de tanto remorso. Tem vontade de trazer as duas crianças para a sua cama e chorar um Amazonas de arrependimento. Às seis as duas pulam na sua cama e você resolve rir. Até ver uma delas com os olhos inchados e vermelhos e ramelentos. O pediatra pode te atender às oito e meia. Dá tempo? Claro, são sete e meia, você está sozinha, mora longe do consultório, em São Paulo – mero detalhe, precisa se trocar, escovar os dentes - não pode esquecer de escovar os dentes, é mais importante do que pentear os cabelos, depois trocar as crianças, escovar os dentes delas – pelo menos só da que será examinada, para o pediatra não achar que você é tão relapsa. Você vai conseguir.

E chega no carro carregando as duas chorando – uma porque quer fechar a porta e chamar o elevador e abrir o elevador e apertar o botão da garagem e ir no colo e a outra...porque viu a mais velha chorando. E lembra que está só com uma cadeirinha no carro, a outra ficou no outro carro que está em outra garagem e que se dane é preciso ir, uma na cadeirinha e a outra presa ao cinto berrando porque quer a cadeirinha e você, mais uma vez, mais uma vez, berra. Berra não tem outra cadeirinha para o prédio inteiro ouvir.

E vai sofrendo, sorrindo e chorando, mas vai. Consegue chegar. O pediatra detecta uma otite na criança mais velha que pode estar até prejudicando a audição. Pelo menos não deve ter escutado meus berros, você diz. O médico ri. Você segura as lágrimas.

Agora só falta você encontrar a amiga que te lembra do quanto a bebê dela é calma porque ela a leva na yoga e na natação e na meditação e na massagem.

Não, por favor, hoje não.

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