quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Rudolph Giuliani, cadê você?

É, tem estabelecimento que pede pra perder o cliente.

Vejo um cartaz numa lanchonete árabe com dois pratos para o almoço e peço o número 1.

- O número 1 não tem.
- Bom, então quero o 2.
- O 2 vai demorar muito pra ficar pronto.
- Então não é melhor tirar esse cartaz daí?
- Não posso.
- Entendi. Mas você pode falar pro seu patrão que uma cliente sugeriu que o cartaz não exponha pratos que vocês não vendem?

Ela me olha como se eu estivesse usando um gorro de lã em pleno verão. Eu não desisto (estava com muita fome).

- Então me dá duas esfihas de carne e um suco de uva.
- R$ 9,90.

Dou uma nota de R$ 10,00, ela registra a venda e me diz:

- Vou te dever R$ 0,10, pode ser?
- Se eu tivesse só R$ 9,80 eu poderia comprar o que pedi?
- Não.
- Então não.

Ela joga a nota de R$ 10,00 no balcão, me olhando como se eu fosse o Bin Laden.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A casa dos orixás

Era uma casa de fazenda branca com portas e janelas azuis-claras, esquecida por um empreendedor quase na divisa entre dois residenciais de Alphaville. Eu passava por mansões modernas e pós-modernas e depois de uma curva me deparei com essa casa. Tanta gente passava por aquelas portas cor de azulejo antigo que resolvi entrar também. Peças de antiquários espalhadas pelas salas e em uma delas um fogão com a lenha queimando. Diante dele, uma negra vestindo um vestido e um turbante brancos mexia um vatapá com seus braços tão grossos quanto as paredes daquela casa. Será que alguém lá saberia me dizer qual o meu orixá? Um velho também negro leu meu pensamento e sorriu desdentado. Eu acenei de volta, faminta. Uma mulata grisalha saiu de um dos quartos dizendo "eu sabia que devia ter vindo". Eu também sabia.

Se eu descobrisse que essa casa existe fora dos meus sonhos, passaria um tempo nela.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

And the Oscar goes to...people who care

Há muitos anos eu não assistia ao Oscar. Confesso que engoli as lágrimas que queriam sair ao ver a emoção da Octavia Spencer. E só de olhar para a Meryl Streep eu sinto vontade de chorar. Dentre tantos trabalhos que dignificam e justificam a arte, se é que a arte precisa de justificativa, eu sempre me lembro de um close seu em "A escolha de Sophia" que me deixou alguns dias com dificuldade para respirar.

E não vou negar o meu encanto ao ver todos aqueles vestidos (o da Jennifer Lopez não entra nessa categoria) e joias, o que me faz pensar que deve ser muito bom ser bonita, rica e aplaudida. Mas se Deus ou qualquer entidade do gênero existe, sabe o que faz ao não me dar tamanha beleza, fama e dinheiro, pois eu seria uma pessoa insuportável.

E no dia seguinte eu acordo e ajudo meu marido a colocar as crianças no carro para irem à escola e quando dou um beijo em cada um e digo "boa aula" sinto a mesma quentura que me invade ao entrar numa padaria num fim de tarde e caminho em jejum em direção a um laboratório carregando uma estatueta de ouro no coração. E no laboratório um homem se despede da esposa que toma um lanche com um afago nos seus cabelos e outro na barriga cheia de vida. Eu desejo que aquele bebê venha com saúde e una ainda mais aquele casal que eu nunca havia visto e provavelmente nunca mais verei, mas não importa. E na televisão mais uma criança morta por um jet ski mal dirigido por alguém que provavelmente pensa que uma represa existe apenas para satisfazer o seu direito ao lazer. E eu penso nos carros estacionados em duas vagas porque seus donos - bem, seus donos são donos e acham que quem é dono, seja lá do que for, pode fazer o que quiser. E nos vizinhos que ligam seus aparelhos de som em alto volume em plena madrugada porque estão dentro de casa e têm o direito de ouvir a música que gostam, ainda que num volume que faz quem não goste da música também escutá-la (ou até goste da mesma música, mas precisa dormir de madrugada). E nos proprietários que abandonam suas casas como se o abandono não afetasse seus vizinhos, afinal, eles são donos. Ser dono tornou-se um grande mal. Todos donos de direitos, cujos deveres - o outro lado da moeda, não pertencem a ninguém. A construtora que só pode fazer carregamentos depois das 22h00 em São Paulo, mas que o faz entre 01h00 e 02h00 ao invés de fazê-lo entre as 22h00 e 23h00, por exemplo, o que, sim, faz muita diferença para os moradores em volta da obra. E no caminho de volta me pergunto a que horas acordou a vendedora de bolos que monta uma barraca numa avenida poluída e vende um pedaço para um senhor que deveria estar aproveitando a aposentadoria ao invés de ir para o trabalho. A avó que briga para a neta tirar a ramela dos olhos. A mãe que segura firme na mão da filha para atravessar a avenida. E eu volto, prestando atenção para atravessar sempre na faixa de pedestres.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Cartilha

Hoje eu vi um homem negro com alguns fios de cabelo brancos e muitas rugas no rosto, usando um boné, uma camisa e uma calça sujos de tinta e um par de botas surradas, sentado num dos bancos externos da Biblioteca Mário de Andrade, fazendo exercícios de matemática numa cartilha com um lápis e uma borracha nas mãos e engoli seco para não derramar lágrimas logo pela manhã.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Das coisas que não entendo

Cena 1:

Uma garota entra no campus de uma universidade e um colega pergunta a ela:

Onde você vai?

Ela:

Onde eu vou? Pegar o xerox. Pegar o xerox, pegar o xerox, pegar o xerox. Minha vida se resume a isso: pegar o xerox, ler o texto, pegar o xerox, ler o texto. Não aguento mais pegar o xerox, ler o texto, pegar o xerox, ler o ...

Enquanto esbraveja, ela entra para pegar o xerox no Centro Acadêmico da Faculdade de Letras.

Cena 2:

Eu numa livraria, com uma lista de livros na mão. Um vendedor me pergunta:

Quer ajuda?

Eu:

Ah, quero sim. Já tem um vendedor procurando um livro pra mim no estoque, mas se você puder ver se tem outros da minha lista, agradeço.

Ele:

Mas quem está te atendendo já?


Eu:

Não sei o nome dele.

Ele:

É o Júlio?

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A avenca está louca de internar

Então eu entro num banho devido a mim mesma há horas. Só o barulho da água escorrendo e batendo no chão. Água morna. É quase um presente dos deuses para essa mortal tão cansada. E é quando meu cerébro desliga dessa vida terrena que alguém bate na porta. Uma. Duas. Três vezes. Resolvo ignorar. Eu mereço esse banho. Eu mereço esses minutos. Mas a pessoa insiste. Uma. Duas. Três vezes. Visita a essa hora? Mas visita para bater na porta do banheiro só se for minha mãe ou minha irmã. Será que elas apareceriam sem avisar? Uma. Duas. Três vezes. Ninguém responde quando eu pergunto quem é. Talvez não me escutem. Termino o banho rapidamente. A cabeça vazia já está cheia de impropérios. Saio da banheiro e só vejo a babá dos meus filhos no quarto ao lado. Não, ninguém bateu na porta.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Quem tem medo do Lobo Mau?



E eu que achava que sabia o que era sentir medo quando via um sapo. Até ver o rosto do meu primeiro filho na maternidade. Não, ele era lindo. Tudo bem, um pouco amassado, o nariz tortinho, um olho mais aberto que o outro, mas nada comparado a um sapo. Olhei para aquele rostinho e pensei em escondê-lo de volta no útero. Volta, menino, volta, aqui você estará mais protegido. Doenças, violência, desilusões, traições. Como protegê-lo? Caí dentro da minha impotência e do meu amor. São enormes. E acho que passarei o resto dos meus dias escalando o caminho de volta, sem retorno. E no segundo dia de vida do meu filho eu tive que assinar uma autorização para que ele passasse por uma cirurgia. Um grito silencioso e avassalador no meu peito. Deu tudo certo, mas ainda escuto o eco. E hoje, quando ele fala que está com medo porque o Lobo Mau está na porta, eu vou lá, abro a porta, e digo: vai embora, seu Lobo, que aqui você não entra, ele vai todo saltitante para o quarto dele e eu vou para o meu, chorar de medo do Lobo Mau.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Novaiorqui

Os galhos secos das árvores reforçam a mensagem: estou fora de casa.
Final de tarde de inverno, o céu azul e laranja faz do espetáculo do por do sol quase um arco íris.
Estou fora de casa.
O trajeto do aeroporto até o hotel é percorrido ao som de um idioma que me causa estranheza.
Estou fora de casa.
Muita gente, de todos os tamanhos, tipos e cores, falando no celular, saindo do trabalho, indo ao encontro de alguém. Parecido com o que conheço, mas bem diferente.
Estou fora de casa.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O crack e a reza

Eu vi um bebê se formando no ventre de uma moça corroída pelo crack. Eu vi essa mãe sem idade aparente rodando em frente à Catedral da Sé com um filho se formando no ventre. Em frente a uma igreja. O sinal da cruz da moça que passa. Uma pessoa no ventre de uma mãe viciada em crack. Uma pessoa pequenininha que insiste em crescer num ambiente inóspito. Saia daí, seu teimoso! Duas vidas jogadas contra as pedras. As pedras são mais duras que os ossos humanos. Um crack bem alto foi ouvido no meu coração. Eu ouvi. A moça não. Eu não consigo fazer o sinal da cruz em frente a uma igreja. Eu não gosto de igrejas. E não sei fazer o sinal da cruz. O filho está na esquerda ou na direita? Ou tanto faz? Eu duvido da existência de Deus. Eu penso em recolher aquela mulher até seu bebê nascer e tomá-lo para mim. Penso em colocá-lo no meu coração rachado pelo crack que eu ouvi. Eu não penso nada. Mas sinto tudo. Eu só penso nela. Eu não sei rezar.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A avenca está muito louca

Saio de casa para uma reunião. De carro. Meu marido sai para trabalhar. Também de carro e para o outro lado da cidade. Vou para a reunião e deixo o carro num estacionamento. Na hora de buscá-lo, duas horas depois, o que eu vejo no estacionamento? O carro do meu marido. Penso em ligar para o celular dele para dizer que eu também estava ali, mas opto pelo não. O que ele estaria fazendo lá? Resolvo ficar de butuca, pegá-lo no pulo. Mas que pulo? Que bobagem. Não sou ciumenta neurótica por natureza e também porque meu marido não me dá motivos para isso. Resolvo ir embora, tenho muita coisa para fazer. Peço o carro e o manobrista me entrega o carro do meu marido.

Casa de mulheres e meninos

Às vezes a tarde encontra a casa cheia de meninos e mulheres. Quando isso acontece, as paredes engrossam, o vento pede licença para entrar, as nuvens dão lugar ao sol, o ar ganha aromas e delicadeza e a natureza observa. As mulheres limpam, arrumam, cozinham, lavam, passam, trocam confidências, soltam muitas risadas e cuidam. Nenhuma ordem é dada nessas tardes porque nessas tardes tudo já está em ordem.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Sêneca no bumba


Aposto que isso já aconteceu com você.
É um pensamento, uma intuição, um sentir que passa pelo seu corpo, você presta uma ligeira atenção e... deixa ir. Vou dar um exemplo.
Hoje cedo antes de sair de casa, ao pegar a chave da porta me veio esse não-sei-que, dizendo "pegue a capa de chuva". Peguei a chave e saí.
Como uma das minhas metas de ano novo, que está em pleno andamento, é usar mais o transporte público deixando o carro em casa, segui alegre e contente em direção ao ponto de ônibus.
Tudo que é novidade tem um gosto diferente. Nossa energia está à disposição. Novo é novo, oras! Estar dentro do bumba, lendo um livro tem sido animador! A sensação de estar aproveitando direitinho o tempo, me alimenta. Sêneca no bumba. Parece título de poema...
Chegando ao Largo da Batata, resolvi caminhar pela Faria Lima em pleno horário do rush. As pessoas correndo para chegar na hora ao seu compromisso e a vida acontecendo no bairro de Pinheiros. Muitos falando ao celular, um dia lindo para caminhar, comércio sendo aberto, cheiro de pão de queijo em muitos pontos da calçada e outros cheiros que tiram o apetite.
Durante o percurso, pararam o trânsito para me dar passagem! Impossível deixar de sorrir diante de um gesto delicado destes, mesmo tendo sido feito pelo marronzinho que trabalhava. O trabalho dele fez com que eu me sentisse especial. Gentileza na cidade de pedra.
A primeira reunião aconteceu no horário, depois a segunda reunião também, bolachinhas para o almoço e na sequencia o treinamento. Tudo certo, dia produtivo. Aproximadamente 16,30h na cidade de São Paulo. Verão. 35 graus.
Pergunto a voce, leitor: o que acontece em São Paulo, nas condições mencionadas num final da tarde?
Respondo: seu sapato encharca, o ônibus não chega, seu vestido cola em seu derriere e você promete a si mesma que da próxima vez dará ouvidos à sua intuição. Ou bom senso, tanto faz.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O quebra-cabeça do respeito

Então a madrugada foi assim: pela terceira na vez na semana, na obra ao lado do prédio, uns dez homens começaram a descarregar um caminhão com centenas de placas de ferro. Era um esforço conjunto para levantá-las e jogá-las na calçada, enquanto outros homens as levavam para dentro da obra. Gritavam ordens. Eram duas da manhã. Até que uns vizinhos se encheram, tiraram os carros da garagem e fecharam o caminhão. Ninguém sairia de lá até que o responsável pela obra fosse encontrado. Caminhão parado, placas de ferro jogadas no chão, vários celulares ligados. E um vizinho que não desceu resolveu colocar um rock pesado no mais alto volume que ele conseguiu. Protestava em favor dos trabalhadores da obra que não podiam trabalhar de madrugada porque caminhões não podem mais entrar em São Paulo durante o dia, o que de fato ajudou a melhorar um pouco o trânsito. Gritando mais alto que a caixa de som, dizia que só abaixaria o volume quando os moradores liberassem o caminhão. Ouvi-a uma voz feminina idosa também gritando, mas defendendo os moradores, pois essa não era a primeira vez que as pessoas eram privadas do sono por causa do barulho da obra. Uns precisam trabalhar ruidosamente. Outros merecem descansar. Tudo no mesmo momento.

Eu fiquei olhando pela janela tentando montar esse quebra-cabeça. Não consegui. São Paulo é uma cidade que não fecha.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Se ventar...

Mais um dia...
Ouvir o despertador, pernas e olhos pesados, levantar.
Preparar o café, tomar banho, desjejum.
Caminhar até o ponto, sacudir em pé no ônibus, trajeto.
Bater o cartão, ligar o computador, bom dia, posso ajudar?
Marmita fria, arroz sem mistura, refeição.
Outro telefonema, café sem gosto, boa tarde, posso ajudar?
Sair as cinco, chegar às oito, trânsito.
Abrir a porta, cômodo para arrumar, solidão.
Deitar tarde, sem janta nem tevê, que vida.
Melhor dormir, sem suspirar.
Está que é só o pó...


Te Pe Eme - uma historinha

Há muitos e muitos anos, num mundo em que ainda havia reinos, nasceu uma linda e saudável princesa. Seus olhos eram tão redondos e brilhantes que seus pais batizaram-na de Lua Cheia.

Desde pequena a princesinha brincava com suas bonecas sonhando com o dia em que cuidaria dos seus próprios filhos. Ela queria muitas crianças no seu castelo.

Lua Cheia cresceu e ficou com os olhos ainda mais belos. Na época em que as princesas são apresentadas para seus príncipes encantados, ela conheceu o mais bonito de todos eles. Poucos meses depois se casaram e viveram felizes até o dia em que Lua Cheia desconfiou de que não poderia ter filhos. Já estava casada há dois anos e o número de tentativas era digno de um casal apaixonado. Seus pais e seus súditos a cobravam.

Naqueles tempos os reis e rainhas tinham seus deuses particulares e foi para eles que Lua Cheia pediu ajuda. Todas as noites, antes de se deitar, ela oferecia flores e fazia uma prece para os deuses.

Mais um ano se passou e seu útero continuava vazio. Lua Cheia ficou descrente dos poderes desses deuses e até mesmo de suas existências. Talvez fossem apenas uma invenção de nobres assustados com a vida mundana. A princesa então, mesmo insegura, resolveu procurar por outro tipo de ajuda. Mais terrena.

A primeira que encontrou foi a de uma conselheira, famosa numa aldeia não muito distante. Lua Cheia passava horas conversando com a sábia mulher, mas a tão desejava gravidez não chegava. Desistiu de tanta conversa e bateu na porta de uma feiticeira que lhe preparou uma poção de cheiro e gosto duvidosos, que nada resolveu. Foi ao encontro de um velho enrugado que dizia palavras indecifráveis enquanto batia na sua barriga e costas com galhos de uma árvore que ela nunca havia visto. Ela só apanhou e não engravidou.

Quando o desespero tomou conta de sua alma, Lua Cheia passou a beber sangue de porcos recém-nascidos e a comer placenta de cabras. Quando bebeu sêmen de coelho a conselho de uma conhecida, os deuses – aqueles nos quais ela não acreditava mais, se ofenderam. Todos têm um limite, até os deuses. Vale lembrar que naquela época os deuses não eram entidades dotadas só de bondade e magnanimidade. Muito pelo contrário. Eram vaidosos e irascíveis, capazes das maiores crueldades quando ofendidos. E foi o que aconteceu.

Numa tarde em que Lua Cheia passeava pela floresta à procura de um coelho, um raio desacompanhado de qualquer tempestade atingiu a pobre princesa, que morreu na hora.

Foi assim que Lua Cheia se transformou num espírito carregado de frustração, mágoa, raiva e desejo de vingança. Como ela nada podia contra aqueles deuses e seus raios, o espírito da Lua Cheia passou a apossar-se de mulheres férteis. Nada era mais odioso para o espírito da Lua Cheia do que a fertilidade. O espírito da Lua Cheia, se tivesse o poder dos deuses, roubaria a capacidade de procriar de todas as mulheres. Nenhum ser mais nasceria na Terra. Mas como não era assim tão poderosa, decidiu castigá-las de outra forma.

Uma vez no mês, quase sempre durante o sono de suas vítimas, o espírito da Lua Cheia se apodera do corpo das mulheres, que vão dormir repletas de ternura e acordam com uma vontade inexplicável de destruir tudo o que encontram, vivo ou não. Enquanto possuídas, as mulheres tornam-se incapazes de ver qualquer beleza no mundo e passam dias com as mãos invisíveis da Lua Cheia a torcer-lhes as vísceras e a traqueia. Quando estão a ponto de sair gritando pelas ruas por socorro, o espírito maligno sai do mesmo modo que entrou, sem pedir licença. As mulheres acordam somente com a certeza de que estavam loucas.

Nossos médicos, como nada sabem sobre as coisas do outro mundo, chamam isso de TPM. O espírito da Lua Cheia ri.