quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Te Pe Eme - uma historinha

Há muitos e muitos anos, num mundo em que ainda havia reinos, nasceu uma linda e saudável princesa. Seus olhos eram tão redondos e brilhantes que seus pais batizaram-na de Lua Cheia.

Desde pequena a princesinha brincava com suas bonecas sonhando com o dia em que cuidaria dos seus próprios filhos. Ela queria muitas crianças no seu castelo.

Lua Cheia cresceu e ficou com os olhos ainda mais belos. Na época em que as princesas são apresentadas para seus príncipes encantados, ela conheceu o mais bonito de todos eles. Poucos meses depois se casaram e viveram felizes até o dia em que Lua Cheia desconfiou de que não poderia ter filhos. Já estava casada há dois anos e o número de tentativas era digno de um casal apaixonado. Seus pais e seus súditos a cobravam.

Naqueles tempos os reis e rainhas tinham seus deuses particulares e foi para eles que Lua Cheia pediu ajuda. Todas as noites, antes de se deitar, ela oferecia flores e fazia uma prece para os deuses.

Mais um ano se passou e seu útero continuava vazio. Lua Cheia ficou descrente dos poderes desses deuses e até mesmo de suas existências. Talvez fossem apenas uma invenção de nobres assustados com a vida mundana. A princesa então, mesmo insegura, resolveu procurar por outro tipo de ajuda. Mais terrena.

A primeira que encontrou foi a de uma conselheira, famosa numa aldeia não muito distante. Lua Cheia passava horas conversando com a sábia mulher, mas a tão desejava gravidez não chegava. Desistiu de tanta conversa e bateu na porta de uma feiticeira que lhe preparou uma poção de cheiro e gosto duvidosos, que nada resolveu. Foi ao encontro de um velho enrugado que dizia palavras indecifráveis enquanto batia na sua barriga e costas com galhos de uma árvore que ela nunca havia visto. Ela só apanhou e não engravidou.

Quando o desespero tomou conta de sua alma, Lua Cheia passou a beber sangue de porcos recém-nascidos e a comer placenta de cabras. Quando bebeu sêmen de coelho a conselho de uma conhecida, os deuses – aqueles nos quais ela não acreditava mais, se ofenderam. Todos têm um limite, até os deuses. Vale lembrar que naquela época os deuses não eram entidades dotadas só de bondade e magnanimidade. Muito pelo contrário. Eram vaidosos e irascíveis, capazes das maiores crueldades quando ofendidos. E foi o que aconteceu.

Numa tarde em que Lua Cheia passeava pela floresta à procura de um coelho, um raio desacompanhado de qualquer tempestade atingiu a pobre princesa, que morreu na hora.

Foi assim que Lua Cheia se transformou num espírito carregado de frustração, mágoa, raiva e desejo de vingança. Como ela nada podia contra aqueles deuses e seus raios, o espírito da Lua Cheia passou a apossar-se de mulheres férteis. Nada era mais odioso para o espírito da Lua Cheia do que a fertilidade. O espírito da Lua Cheia, se tivesse o poder dos deuses, roubaria a capacidade de procriar de todas as mulheres. Nenhum ser mais nasceria na Terra. Mas como não era assim tão poderosa, decidiu castigá-las de outra forma.

Uma vez no mês, quase sempre durante o sono de suas vítimas, o espírito da Lua Cheia se apodera do corpo das mulheres, que vão dormir repletas de ternura e acordam com uma vontade inexplicável de destruir tudo o que encontram, vivo ou não. Enquanto possuídas, as mulheres tornam-se incapazes de ver qualquer beleza no mundo e passam dias com as mãos invisíveis da Lua Cheia a torcer-lhes as vísceras e a traqueia. Quando estão a ponto de sair gritando pelas ruas por socorro, o espírito maligno sai do mesmo modo que entrou, sem pedir licença. As mulheres acordam somente com a certeza de que estavam loucas.

Nossos médicos, como nada sabem sobre as coisas do outro mundo, chamam isso de TPM. O espírito da Lua Cheia ri.

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