quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O crack e a reza

Eu vi um bebê se formando no ventre de uma moça corroída pelo crack. Eu vi essa mãe sem idade aparente rodando em frente à Catedral da Sé com um filho se formando no ventre. Em frente a uma igreja. O sinal da cruz da moça que passa. Uma pessoa no ventre de uma mãe viciada em crack. Uma pessoa pequenininha que insiste em crescer num ambiente inóspito. Saia daí, seu teimoso! Duas vidas jogadas contra as pedras. As pedras são mais duras que os ossos humanos. Um crack bem alto foi ouvido no meu coração. Eu ouvi. A moça não. Eu não consigo fazer o sinal da cruz em frente a uma igreja. Eu não gosto de igrejas. E não sei fazer o sinal da cruz. O filho está na esquerda ou na direita? Ou tanto faz? Eu duvido da existência de Deus. Eu penso em recolher aquela mulher até seu bebê nascer e tomá-lo para mim. Penso em colocá-lo no meu coração rachado pelo crack que eu ouvi. Eu não penso nada. Mas sinto tudo. Eu só penso nela. Eu não sei rezar.

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