terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A casa dos orixás

Era uma casa de fazenda branca com portas e janelas azuis-claras, esquecida por um empreendedor quase na divisa entre dois residenciais de Alphaville. Eu passava por mansões modernas e pós-modernas e depois de uma curva me deparei com essa casa. Tanta gente passava por aquelas portas cor de azulejo antigo que resolvi entrar também. Peças de antiquários espalhadas pelas salas e em uma delas um fogão com a lenha queimando. Diante dele, uma negra vestindo um vestido e um turbante brancos mexia um vatapá com seus braços tão grossos quanto as paredes daquela casa. Será que alguém lá saberia me dizer qual o meu orixá? Um velho também negro leu meu pensamento e sorriu desdentado. Eu acenei de volta, faminta. Uma mulata grisalha saiu de um dos quartos dizendo "eu sabia que devia ter vindo". Eu também sabia.

Se eu descobrisse que essa casa existe fora dos meus sonhos, passaria um tempo nela.

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