sábado, 4 de fevereiro de 2012

O quebra-cabeça do respeito

Então a madrugada foi assim: pela terceira na vez na semana, na obra ao lado do prédio, uns dez homens começaram a descarregar um caminhão com centenas de placas de ferro. Era um esforço conjunto para levantá-las e jogá-las na calçada, enquanto outros homens as levavam para dentro da obra. Gritavam ordens. Eram duas da manhã. Até que uns vizinhos se encheram, tiraram os carros da garagem e fecharam o caminhão. Ninguém sairia de lá até que o responsável pela obra fosse encontrado. Caminhão parado, placas de ferro jogadas no chão, vários celulares ligados. E um vizinho que não desceu resolveu colocar um rock pesado no mais alto volume que ele conseguiu. Protestava em favor dos trabalhadores da obra que não podiam trabalhar de madrugada porque caminhões não podem mais entrar em São Paulo durante o dia, o que de fato ajudou a melhorar um pouco o trânsito. Gritando mais alto que a caixa de som, dizia que só abaixaria o volume quando os moradores liberassem o caminhão. Ouvi-a uma voz feminina idosa também gritando, mas defendendo os moradores, pois essa não era a primeira vez que as pessoas eram privadas do sono por causa do barulho da obra. Uns precisam trabalhar ruidosamente. Outros merecem descansar. Tudo no mesmo momento.

Eu fiquei olhando pela janela tentando montar esse quebra-cabeça. Não consegui. São Paulo é uma cidade que não fecha.

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