segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

And the Oscar goes to...people who care

Há muitos anos eu não assistia ao Oscar. Confesso que engoli as lágrimas que queriam sair ao ver a emoção da Octavia Spencer. E só de olhar para a Meryl Streep eu sinto vontade de chorar. Dentre tantos trabalhos que dignificam e justificam a arte, se é que a arte precisa de justificativa, eu sempre me lembro de um close seu em "A escolha de Sophia" que me deixou alguns dias com dificuldade para respirar.

E não vou negar o meu encanto ao ver todos aqueles vestidos (o da Jennifer Lopez não entra nessa categoria) e joias, o que me faz pensar que deve ser muito bom ser bonita, rica e aplaudida. Mas se Deus ou qualquer entidade do gênero existe, sabe o que faz ao não me dar tamanha beleza, fama e dinheiro, pois eu seria uma pessoa insuportável.

E no dia seguinte eu acordo e ajudo meu marido a colocar as crianças no carro para irem à escola e quando dou um beijo em cada um e digo "boa aula" sinto a mesma quentura que me invade ao entrar numa padaria num fim de tarde e caminho em jejum em direção a um laboratório carregando uma estatueta de ouro no coração. E no laboratório um homem se despede da esposa que toma um lanche com um afago nos seus cabelos e outro na barriga cheia de vida. Eu desejo que aquele bebê venha com saúde e una ainda mais aquele casal que eu nunca havia visto e provavelmente nunca mais verei, mas não importa. E na televisão mais uma criança morta por um jet ski mal dirigido por alguém que provavelmente pensa que uma represa existe apenas para satisfazer o seu direito ao lazer. E eu penso nos carros estacionados em duas vagas porque seus donos - bem, seus donos são donos e acham que quem é dono, seja lá do que for, pode fazer o que quiser. E nos vizinhos que ligam seus aparelhos de som em alto volume em plena madrugada porque estão dentro de casa e têm o direito de ouvir a música que gostam, ainda que num volume que faz quem não goste da música também escutá-la (ou até goste da mesma música, mas precisa dormir de madrugada). E nos proprietários que abandonam suas casas como se o abandono não afetasse seus vizinhos, afinal, eles são donos. Ser dono tornou-se um grande mal. Todos donos de direitos, cujos deveres - o outro lado da moeda, não pertencem a ninguém. A construtora que só pode fazer carregamentos depois das 22h00 em São Paulo, mas que o faz entre 01h00 e 02h00 ao invés de fazê-lo entre as 22h00 e 23h00, por exemplo, o que, sim, faz muita diferença para os moradores em volta da obra. E no caminho de volta me pergunto a que horas acordou a vendedora de bolos que monta uma barraca numa avenida poluída e vende um pedaço para um senhor que deveria estar aproveitando a aposentadoria ao invés de ir para o trabalho. A avó que briga para a neta tirar a ramela dos olhos. A mãe que segura firme na mão da filha para atravessar a avenida. E eu volto, prestando atenção para atravessar sempre na faixa de pedestres.

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