sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Elevador

Eu parei no térreo para deixar uma tupperware com chocottone para os seguranças do prédio. Quando voltei o elevador subiu, em vez de descer para garagem. Fiquei brava, um pouco irritada. Fiquei apertando inutilmente o botão do 2S até que o elevador parou no 9o andar. A mulher que entrou estava chorando. Limpou as lágrimas com discrição, talvez amaldiçoando minha presença dentro do elevador da mesma maneira como amaldiçoei a viagem até lá em cima. Era uma mulher bonita, talvez uns 40 anos. Lábios grossos, olhos amendoados. O cabelo preto e brilhante preso em um rabo de cavalo alto perfeito. Estava bem vestida, com uma calça jeans escura, escarpin preto e um lindo sueter argyle rosa. Ela apertou o 6o andar, e continuava passando os dedos sob os olhos, disfarçando as lágrimas. Imaginei que alguém devesse ter partido o coração da mulher. Imaginei que esse alguém morasse também no nosso prédio. E lembrei que a última coisa que queremos é uma testemunha de nossas lágrimas quando nosso coração despedaça. Pensei que no meio do silêncio daquele elevador iam duas mulheres de coração castigado, e quando o espaço é tão pequeno, parece que o mundo todo se resume apenas a isso. Pensei em como era injusto aquilo. Resolvi que não ia lavar minhas mãos. As lágrimas continuavam teimosas, são muito impertinentes quando querem. Eu não queria ser a garota que a viu chorar no elevador. Então eu falei. Abri minha boca e falei. "Lindo o seu suéter!". A mulher se espantou por um segundo, depois abaixou o rosto até o peito, meio que lembrando qual era mesmo o suéter que estava usando e... sorriu. "Ele é diferente, né!?". Acenei que sim. Era diferente. A mulher sorriu e soltou de leve, quase imperceptivelmente a respiração. Talvez por um segundo ela tenha se esquecido do coração partido. Talvez por um segundo ela tenha se lembrado de todas as coisas que ela era além daquilo. Talvez por um segundo ela tenha se lembrado do dia em que comprou o suéter, da lojista lhe apresentando opções, do momento da escolha. Talvez por um segundo ela tenha pensado como tinha feito a escolha certa ao se vestir pela manhã. E se lembrado de que ela era uma mulher bonita, interessante, sofisticada. Ou talvez nada disso tenha se passado para ela. Mas quando a mulher desceu no 6o andar, o sorriso continuava lá.

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