terça-feira, 8 de novembro de 2011

À espera do amor na Paulista

Eu não sei a que horas ela chega nem a que horas vai embora, se é que vai. Mas ela está no canteiro central da Paulista, na altura do MASP, em todas as horas do dia em que passo por lá: cabelos encaracolados grisalhos presos num rabo de cavalo bem trabalhado, meia soquete branca dentro de um sapatinho de salto preto, saia rodada na altura dos joelhos que mostram suas pernas finas, blusa abotoada até o pescoço por baixo de um blazer marrom, com as duas mãos apoiadas numa sombrinha fechada que toca sua ponta no chão. Ao seu lado, duas malinhas.

Na primeira vez que a vi, ela conversava com um motorista. Por causa das malas achei que ela pedia dinheiro para ir a algum lugar. Mas tantos dias depois, será que ela já não teria juntado dinheiro para ir sei lá pra onde quer ir?

Hoje ela estava lá de novo e eu descobri que ela não vai. Ela espera. Espera um amor que se perdeu apenas fora dela. Um amor desses tão grande que não precisa ser vivido. Um amor que ela espera passar dentro de um carro, de um ônibus ou a pé. Tanta gente passa pela Paulista, por que não o seu amor? Um amor que ela carrega há tantos anos dentro de si (quantos mesmo?) e que bastaria ser apenas sentido; mas, ah, agora, já com tantas rugas no corpo e obrigações cumpridas, por que não tentar vivê-lo?

Talvez ele passe até de bicicleta.

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