sábado, 1 de outubro de 2011

O homem que estava pendurado no sol (ou Sou malabarismos de gavetas)

Sonhei que estava pendurado no sol. E o calor me queimava.
Acordei.
Percebi que estou realmente pendurado no sol. E o calor me queima.
Nem lembro como cheguei até aqui. Mas sei como o calor chega até os meus ossos: ele entra pelas minhas frestas, reesburaca os espaços vazios que vivem em mim, sou espaços vazios?, acho até que não são os espaços vazios que existem em mim, mas sim eu sou feito de espaços vazios, sou gavetas.
É estranho estar pendurado no sol. Minha carne pulsa bem mais do que antes. É como se eu todo fosse um coração. Olho para baixo e só vejo escuro. Olho para cima e só vejo luz. Não dá para identificar a Terra, nem qualquer outro planeta. Aqui é puro extremo. Estou dentro do extremo concreto. E preciso deixar claro que estou pendurado no sol por vontade própria. Não lembro como cheguei até aqui, já falei. Mas está claro para mim que só continuo aqui porque estou segurando uma corda que está presa ao sol.
Se me jogo para o escuro, fim. Se me jogo para a luz, fim. Se continuo aqui, fim também. Ou seja: até o caminho do meio é uma falácia. Não há caminhos do meio nem dos extremos. Existem apenas caminhos, intensos malabarismos de impulsos e direções.
Há mais alguém pendurado no sol?  (André Gravatá)

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