quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Joelhos

Olhos baixos. Preto não, que ela não vestia preto. Nenhum pensamento em especial, mas evitava palavras. Olhava para os joelhos. O movimento em torno do caixão no meio da sala lhe era incompreensível. Odiava seus joelhos agora grudados e jurava que, de hoje em diante, eles lhe seriam escravos. Sentiu uma estranha cãibra no abdômen, sua coluna se curvou um pouco mais e algum desatento podia supor que ela soluçava. A respiração acelerou, a boca entreaberta e muda, os olhos fechados com força. Não tornaria a olhar para ele. A mão espremia um lenço que alguém lhe dera e ela percebeu seus mamilos rijos. As mãos agarraram a borda da cadeira estofada. O assento estava quente e os joelhos tentavam se separar contra vontade. Inútil.  Crispou o lenço e pequenas ondas vararam seu corpo. A cabeça se jogou para cima com mais energia do que seria de se esperar e os olhos continuavam cerrados. Pouco importava. Soltou a respiração forçada e lentamente enquanto os ombros cederam, a boca abriu sonora e o corpo abandonou a tensão que sustentara por um tempo. Ofegava. O caixão estava a caminho da sepultura, levando este último orgasmo.  E ela determinada a fazer dos joelhos seus escravos.

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