quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Segredo revelado

Eu tenho medo do que acontece em silêncio dentro do meu corpo (e em tantos outros corpos que amo). Criança ainda, enquanto eu procurava pela Rita Lee dentro das caixas de som na sala de casa, eu me perguntava se os médicos já haviam inventado uma máquina enorme onde eu pudesse entrar e ter todo o meu interior examinado para saber, afinal, que tudo estava funcionando conforme programado para uma vida saudável. Ou não. O que já me agoniava era o desconhecimento, a imprevisibilidade. E o pior de tudo para a minha pequena alma: a inevitabilidade. E essa aflição era um dos meus segredos. Nunca tive coragem de perguntar para os meus pais se essa máquina perscrutadora já existia. Talvez eu já tivesse a consciência de que essa preocupação não deveria estar na mente (ou no coração?) de uma menina. Então a Ita, parte babá, parte faxineira, parte cozinheira e inteira minha protetora chegava, me pegava no colo e colocava Martinho da Vila na vitrola. E a gente sambava enquanto gargalhava.

Hoje, por causa de uma dormência que se instalou no meu braço há meses, o medo saiu do silêncio.

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