sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O jornaleiro

Eu passava em frente à banca todas as manhãs a caminho do trabalho. Nem sempre comprava, mas o “bom dia” para o jornaleiro era sagrado. Um dia ele me ofereceu uma revista emprestada, para ser devolvida depois de lida, e quis fazer disso um hábito, o que eu não permiti. Semanas mais tarde me presenteou com uma tábua e um cortador de pizza que ele mesmo havia feito. Também era marceneiro. Depois foi uma caixinha para guardar pequenos trecos. Levei meus cachorros para ele conhecer, o marido e meu primeiro filho, cujo crescimento na barriga ele acompanhou.

E numa manhã ele não estava. Nem na seguinte e na outra. O novo jornaleiro, sisudo, não soube me dizer seu paradeiro e nem um “bom dia”. Mudei de calçada.

Ano passado, em Parati por ocasião da Flip e quase dois anos após o sumiço do jornaleiro, resolvi comprar uns doces vendidos nas ruas por ocasião da festa de Santa Rita. O pagamento deveria ser feito ao senhor ali no caixa. Entrego o dinheiro ao homem de cabeça baixa que só a ergue para me dar o troco. Sim, ele. O jornaleiro havia virado caixa em homenagem a Santa Rita. Não, não era bem isso, ele me disse. A família era de Paraty e ele resolveu voltar para seu lugar de origem. Todos os moradores, ou quase todos, ajudavam na festa e ele estava fazendo a sua parte. Foi uma alegria o nosso encontro, mas não consegui vê-lo no dia seguinte, como combinado.

Hoje me lembrei dele. Não porque vi a tábua e o cortador de pizza na cozinha, mas porque parei numa banca de jornais para comprar a Bravo deste mês. O jornaleiro me vendeu o último exemplar. Ficou feliz por causa disso e me deu um Trident de presente. Que bom. A banca está no meu novo caminho.

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